Observo que há muitos esclarecimentos a serem feitos em relação à depressão perinatal (depressão que pode começar desde o início da gravidez até o final do primeiro ano de vida do bebê). Entretanto, é preciso elucidar o que é a depressão perinatal, bem como diferenciá-la da tristeza materna, também conhecida como baby blues ou blues puerperal.
O nascimento de um bebê mobiliza muitas coisas não só no físico da mulher, mas também no emocional e no ambiente em que vive. Durante a gestação, a mãe provavelmente se preparou para receber o bebê. Isso inclui mudanças que envolvem o corpo, como hábitos físicos e alimentares, preparação do seio para o aleitamento materno, além de mudanças no ambiente para receber o bebê e do preparo interno (psicológico) da mãe para a chegada da criança.
O período que se sucede ao parto é propício para que a mulher vivencie várias questões. Em primeiro lugar, ocorre uma queda drástica nos hormônios como progesterona e estrogênio, que podem interferir no físico e no emocional da mulher. Inevitavelmente acontece uma mudança no seu dia a dia que pode ser causadora de estresse e interferir no seu estilo de vida e até no seu ritmo de sono, pois seu universo está completamente voltado para recém-nascido, que necessita de cuidados exclusivos o tempo todo. Ao mesmo tempo, a experiência da maternidade, poderá mobilizar questões psíquicas muito primitivas e até inconscientes, que talvez fujam à sua compreensão. Essa fase pode ser vivenciada em muitos casos, como uma turbulência de sentimentos, emoções e expectativas que podem provocar uma instabilidade emocional.
A tristeza materna, também conhecida como baby blues ou blues puerperal, pode atingir até 80% das parturientes e, diferentemente da depressão perinatal, não é considerada doença, pois não incapacita a mãe de prestar os cuidados ao bebê, e em geral não provoca prejuízos na rotina diária. É como se fosse um momento de transição e preparo para uma nova fase, que necessita de adaptação. Pode apresentar sintomas como, por exemplo, desânimo, falta de energia e vontade de fazer as coisas, impaciência, irritabilidade, cansaço, choro e tristeza sem motivo aparente. Entretanto, tais sintomas costumam aparecer logo nos primeiros dias após o nascimento do bebê e podem durar por volta de uma ou até duas semanas, devendo desaparecer espontaneamente. Se os sintomas persistirem, podemos sim, estar falando de depressão.
A depressão perinatal é diferente da tristeza materna e necessita ser tratada, justamente por ser classificada como doença. Atinge cerca de 10 a 20% das mães e tem-se tornado cada vez mais motivo de discussão e preocupação nas diversas áreas da saúde. 20 a 25% das mulheres, já começam a depressão na gravidez, que acontece com a mesma frequência que acontecem as depressões puerperais (depois que o bebê nasce).
Na depressão, o humor deprimido ou falta de prazer nas coisas (anedonia) da paciente deve estar presente na maior parte do dia, quase todos os dias, por um período mínimo de 2 semanas e não desaparecem espontaneamente como acontece na tristeza materna (baby blues). Entretanto, devem ocorrer também alguns sintomas como: alteração do sono (muito sono ou insônia), alteração do apetite (para mais ou para menos), com perda ou ganho de peso, diminuição da energia ou agitação psicomotora, negatividade, sentimento de culpa ou incapacidade, pensamento recorrente de morte, ideação, planejamento ou tentativa de suicídio, dificuldade de concentração. Sintomas como, Irritabilidade, euforia, aumento do impulso para compras, álcool, drogas, aceleração de pensamento, são sintomas que devem ser observados nessa fase, assim como delírios e alucinações, pois podem acarretar sofrimento e prejuízos à paciente e até oferecer risco ao bebê. Nesses casos, o diagnóstico pode ser outro, por isso a importância de um diagnóstico diferencial.
É importante a paciente ou seus familiares estarem sempre atentos aos sintomas que se manifestam na gestação ou no período pós-parto (a literatura mostra que podem ocorrer até por volta um ano após o parto) e procurar ajuda. Esse diagnóstico poderá ser feito por um médico psiquiatra ou psicólogo especialista em transtornos de humor, que terá condições de avaliar inclusive a necessidade do tratamento. Ressalto aqui a importância da psicoterapia para o tratamento da depressão. Isso, no entanto, não significa que nos casos em que ocorre a tristeza materna essa intervenção não seja necessária. A tristeza faz parte da vida e precisa ser integrada a ela, mas as mães não precisam fazer isso sozinhas. Contar com ajuda profissional, nesse período de vida tão sublime e, ao mesmo tempo, tão delicado e complexo, pode fazer toda a diferença para a saúde emocional das mães e certamente também aos seus bebês.