* José Arnaldo Favaretto
Pais que hoje têm filhos na infância e na adolescência provavelmente viveram o auge da hiperinflação no Brasil, período em que um dos principais objetivos era consumir rapidamente tudo o que fosse possível, pois os preços aumentavam em ritmo frenético. Desde 1994, a estabilidade monetária tornou-se realidade e está cada vez mais em alta o consumo inteligente.
Essa mesma geração de pais foi educada por pessoas que tinham outro tipo de expectativa de vida, em que talvez não houvesse a preocupação de, por exemplo, planejar-se para garantir uma boa aposentadoria. Já o cenário atual indica um crescimento da expectativa de vida, o que obriga as pessoas a se organizarem financeiramente o quanto antes para garantiruma velhice tranquila.
Para se ter uma ideia dessa evolução, quem nasceu em 1998 tinha a perspectiva de viver até os 69 anos, sete meses e 29 dias. Dez anos depois, a esperança já era de chegar aos 72 anos, dez meses e dez dias. Isso significa que, em apenas uma década, os brasileiros e brasileiras passaram a viver, em média, três anos, dois meses e 12 dias a mais, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no fim de 2009.
Uma vez que vivemos em uma sociedade com forte apelo consumista e sofisticadas estratégias de marketing, que nos bombardeiam constantemente, a família precisa ensinar fundamentos de responsabilidade financeira às crianças logo cedo, para evitar criar consumidores vorazes – e irresponsáveis. Essa educação financeira passa por três pilares: diálogo, exemplo e planejamento.
Em primeiro lugar, é importante que o assunto “dinheiro” seja conversado e discutido em família, sem tabus. Os limites do orçamento familiar precisam ficar claros, e o envolvimento de todos é importante, assim como a definição de prioridades e dos grandes projetos familiares. Se os pais explicarem aos filhos que estão economizando com o objetivo de comprar a casa própria, trocar de carro ou fazer uma viagem, provavelmente ficará mais fácil compreender por que não se atenderá a determinadas vontades.
Um exercício prático é dar uma quantia fixa de dinheiro à criança, com uma periodicidade preestabelecida, semanal ou mensal. O pequeno economista deve ser orientado sobre como administrar suas contas, incluindo hábitos como pesquisar preço – para entender o que é caro e barato – e poupar, definindo objetivos de curto e de longo prazo, como comprar roupas e brinquedos. Ele (ou ela) precisa ser responsável pelas escolhas que faz. Se,apesar das conversas, os filhos gastarem todo o dinheiro antes do fim da semana ou do mês – e pedirem mais –, os pais precisam ser firmes e dizer não.
Essa experiência também é positiva para os pais, que passam a entender melhor os hábitos de consumo e a capacidade de os filhos tomarem decisões quanto aos seus gastos. Consequentemente, os adultos podem aproveitar a oportunidade para reverem sua própria relação com o dinheiro.
Todavia, de nada adiantará o discurso se as crianças e adolescentes constatarem que seus pais consomem por impulso e sem planejamento. Dar o exemplo é uma das atitudes mais importantes, seguida pelo planejamento cuidadoso a respeito das estratégias para presentear os filhos. É preciso se policiar para evitar compensar com presentes determinadas ausências ou a impossibilidade de dedicar mais tempo à família. É importante haver critérios e parcimônia, já que o excesso de mimos dificulta o entendimento prático das dificuldades que nossos filhos enfrentarão na vida adulta.
Quando os pais refletem e desenvolvem ações que contribuem para a educação financeira dos filhos, estarão, no mínimo, favorecendo o amadurecimento de conceitos como organização, planejamento, disciplina e entendimento da relação de causa e efeito. Estes são ganhos inestimáveis para a formação de cidadãos cada vez mais bem preparados para a tomada de decisões conscientes sobre o consumo.
* Diretor de Sistemas de Ensino da Editora Saraiva