Com todos os novos modelos conjugais do século XXI, há um que vem prevalecendo na relação homem/mulher com muita frequência. São os papéis que vão sendo adquiridos a partir de certa escolha de parceiros. São os papéis de madrasta, padrasto e enteado (a), que sofrem atualmente uma desmistificação dos antigos paradigmas.
Os famosos contos de fadas sempre nos forneceram imagens desses personagens associados à madrasta má, ao padrasto abusivo e ao enteado em uma situação de vítima da infelicidade a partir de escolhas que seus pais haviam tomado. Aparecem nesses contos histórias sempre relacionadas com a viuvez de um dos progenitores, o que justificava uma nova união.
Nos dias de hoje existe uma nova visão desse contexto, percebendo que os papéis de padrasto e madrasta estão muito presentes nas relações humanas. O desenvolvimento do papel de padrasto ou madrasta não é algo tão natural, mas pode não ser muito desconfortável, se o indivíduo que o estiver desenvolvendo tiver consciência de que para a criação de um novo papel, necessita-se de um desenvolvimento paulatino de ambos os lados. Quando se fala de papel, temos do outro lado um contra papel.
Portanto, falam nesse caso de uma relação que envolve duas ou mais pessoas, é o desenvolvimento de um novo vínculo.
Para os novos relacionamentos que sugerem esse novo papel, há a necessidade de se reinventar e criar uma adaptação para as pessoas que estão envolvidas. Os indivíduos que estão se recasando e já passaram por relações conjugais anteriores podem estar trabalhando em um novo formato a sua nova família. Sugere-se assim que exista uma adaptação ao novo parceiro e, concomitante a isso, a criação do papel de padrasto e/ou madrasta.
Uma relação dessas, em que há filhos de casamentos anteriores, necessita-se de uma grande maturidade por parte do novo casal. Percebe-se que não são todas as pessoas que estão preparadas para a construção desse feito. Mas atualmente já é bem mais comum devido à grande demanda social.
Uma família formada em torno de um recasamento leva entre cinco a sete anos de coragem, compreensão e apoio para que seja possível existir a proximidade e a autenticidade, para que o padrasto, madrasta e enteado possam se sentir integrantes de uma mesma família.
Pode parecer muito tempo, mas são anos suficientes para um fortalecimento dos laços afetivos não consanguíneos, além de algo que é muito importante: confiança.
Filhos que foram concebidos em um casamento anterior trazem consigo, principalmente se forem crianças ou adolescentes, fantasias de que os vínculos podem ser rompidos.
Filhos sofrem muito com as separações dos pais e estabelecem defesas para não sofrerem com novas separações. Criam verdadeiras armaduras para não se machucarem mais.
É preciso compreender esse lado dos filhos e perceber que muitas vezes o casal está aberto para amar de novo, mas os filhos ainda estão reticentes. Os filhos também se machucaram e não podem ser invadidos com a obrigação de aceitarem padrastos e madrastas no mesmo tempo que os pais.
Garanta o lugar afetivo dos filhos
Quando os filhos sentem segurança de que seu lugar no mundo afetivo do pai ou da mãe está garantido, o panorama é bem diferente e a facilidade de aceitar os novos parceiros é maior. Filhos que se sentem abandonados não terão atitude de aceitação de outra pessoa que é vista como rival.
Muitas vezes recasar é sinônimo de muita alegria para os pais e estes gostariam de estar vendo essa felicidade refletida nos filhos. Portanto, há necessidade de uma atenção especial aos filhos e de poder suportar que a felicidade dos pais não está necessariamente vinculada à alegria dos filhos.
Por que os filhos podem rejeitar padrastos e madrastas?
Os filhos apresentam uma lealdade com as figuras materna e paterna intensa, protegendo-as ferozmente, o que em muitas situações significa afastar o padrasto ou a madrasta da cena familiar.
Há também os filhos que se sentem culpados quando criam bons vínculos com o padrasto ou madrasta e um de seus pais abomina essa pessoa.
É nítido perceber que a maneira como a separação se dá é a grande facilitadora ou dificultadora da inserção de novos membros. Em casamentos em que há uma resolução mais madura e encontramos menos mágoa, torna-se mais fácil aos filhos a chegada de novos parceiros.
Padrastos e madrastas devem assumir um novo papel e não tentar ocupar o papel do pai ou da mãe
Tornar-se padrasto ou madrasta sugere-se que o mais conveniente e respeitoso é nunca tentar destruir a imagem dos progenitores e perceber que a função de padrasto e madrasta é um papel novo, sem muitas regras ou literatura, mas que certamente não é o de tentar ocupar o papel do pai ou da mãe já existente. O grande desafio do padrasto ou da madrasta é perceber esse divisor de águas e construir um importante papel sem precisar competir pelo amor dos pais de seu enteado.
Cabe refletir que não são só os filhos que temem amar os padrastos ou as madrastas. Estes últimos também receiam criar relacionamentos de amor que podem não perdurar.
Quando padrastos ou madrastas conseguem adquirir seu espaço de uma maneira construtiva e especial na vida de enteados, também sofrem muito quando esses casamentos terminam. Muitas vezes afastam-se desses enteados e pela falta de vínculos consanguíneos não aparecem novas situações de encontro. São relações findadas em que ambos os lados sentem a dor do prejuízo.
Quando há possibilidade de se ter respeito, atenção, cuidado e qualidade nas relações de padrasto ou madrasta, com os enteados e vice-versa, todos lucram com isso e passam a ter importantes personagens para suas histórias de vida pessoais.
Essa é uma história para se escrever juntos: padrastos, madrastas e enteados, pois é um momento de novas histórias e grandes possibilidades de conquistas. É a chance de uma inserção saudável nesse novo processo de formação familiar e social.