Em termos nutricionais, os hábitos alimentares na infância e na adolescência irão impactar, de forma significativa, na saúde do indivíduo na fase adulta. E não é ficar atento apenas em relação à combinação de macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) nas refeições. Sim, eles são essenciais no desenvolvimento de crianças e adolescentes, mas os micronutrientes (vitaminas e minerais) também desempenham papel fundamental.
Como somos seres únicos, logicamente que as carências nutricionais devem ser avaliadas de forma individual, por meio de exames de sangue e avaliação clínica em consultas periódicas, com uma equipe multidisciplinar, cada um com seu papel e conduta.
E dentre estudos recentes que abordam essa importância dos micronutrientes nestas etapas da vida, há dois recentes bem interessantes neste sentido. Um deles foi publicado em agosto de 2023 no periódico Diabetes Therapy.
A pesquisa faz uma abordagem da relação da obesidade infantil com a deficiência de micronutrientes essenciais, com base em um levantamento feito entre os anos de 2017 e 2018, por meio de análise de dados secundários da Pesquisa Nacional Abrangente de Nutrição da Índia, com registros de informações de 112.245 crianças em idade pré-escolar (6 a 60 meses), crianças em idade escolar (5 a 9 anos) e adolescentes (10 a 19 anos).
No estudo, os pesquisadores avaliaram os fatores que afetam o sobrepeso e a obesidade, na presença de deficiências de micronutrientes, ao comparar com pacientes com peso normal o baixo peso. Como resultado, foram observados os seguintes dados: uma diferença significativa nos níveis de folato e Vitamina B12 entre crianças em idade pré-escolar e escolar com sobrepeso e obesidade, quando comparadas ao grupo com peso adequado. Já os adolescentes com sobrepeso e obesos, pode-se observar deficiências nos níveis de vitaminas D e A, assim como ferritina sérica.
Já outro jornal científico, o Children-Basel, trouxe em abril deste ano outras reflexões sobre o tema, com uma revisão narrativa sobre tema semelhante. Na análise em questão é destacado que este déficit de vitaminas e minerais específicos podem desempenhar um papel importante nas comorbidades metabólicas associadas à obesidade e suas consequências clínicas, sugerindo a possibilidade de suplementação. São destacadas as deficiências de vitaminas A, B, C, D e E; ácido fólico; zinco; e as deficiências de cobre, sendo estas as mais comuns.
Em sua conclusão, o artigo científico aponta a importância das escolhas alimentares, com uma diversidade de nutrientes, a fim de se evitar complicações diretamente ligadas à obesidade, destacando a relevância de um monitoramento nutricional de forma contínua. E por ser uma doença multifatorial, outros fatores podem ter interferência, além de hábitos alimentares inadequados, a exemplo da etnia e dos polimorfismos genéticos da via metabólica, onde os micronutrientes atuam, relacionados à formação do tecido adiposo. Sendo assim, o acompanhamento de um nutricionista se torna fundamental, com o objetivo de traçar estratégias alimentares personalizadas, super importantes nesta manutenção de peso e do estado nutricional.
E para fechar essa reflexão sobre o papel dos micronutrientes na infância e na adolescência, destaquei cinco que considero fundamentais, explicando como atuam no organismo, e algumas fontes alimentares ricas nestas vitaminas e minerais.
Cálcio/Vitamina D – É bastante comum as deficiências destes dois micronutrientes, em especial no público adolescente. Ambos são extremamente importantes para o crescimento e desenvolvimento ósseo. Cerca de 40% do pico de massa é atingido durante a puberdade. Fontes de Cálcio: leite e derivados, assim como vegetais, em especial os verdes-escuros. Fontes de Vit. D: leite; ovos, sendo a exposição aos raios solares muito importante também, já que estimula a síntese desta vitamina pelo organismo.
Zinco – Desempenha papel importante na visão, percepção do paladar, cognição, reprodução celular, crescimento, imunidade, síntese de hormônios sexuais e maturação sexual. É essencial no período de “estirão” do crescimento puberal. Fontes de Zinco: carnes (em especial as vermelhas), leite, queijos, cereais integrais e leguminosas (feijão, ervilha, lentilha, grão-de-bico e soja).
Vitamina A – Exerce papel importante na manutenção da visão e no funcionamento adequado do sistema imunológico. Ainda auxilia na manutenção das mucosas, e age como barreira de proteção contra infecções, como no caso dos tratos respiratório e gastrointestinal. Fontes de Vit. A: frutas e legumes alaranjados, como mamão, manga, abóbora e cenoura.
Ferro – É a carência nutricional mais prevalente numa escala global. As crianças constituem um dos grupos mais suscetível a essa deficiência, em especial na faixa etária dos 6 a 18 meses de vida (rápida velocidade de crescimento) – o que afeta o crescimento linear e o desenvolvimento cognitivo. Fontes de Ferro: carnes, fígado, cereais integrais, leguminosas e vegetais folhosos.