Alimentar e nutrir uma criança com TEA, não é fácil. Percebo que, nas redes sociais esse processo é, na maioria das vezes, destorcido da realidade que existe na casa de cada família. Por isso, quero dizer que antes de fazer o planejamento alimentar ou determinar a terapia nutricional, é necessário conhecer o paciente e o seu atual comportamento alimentar.
O comportamento alimentar da criança com TEA é identificado como seletivo. O momento da refeição, é descrito pelos pais e cuidadores como problemático. Pode ser acompanhado de choro, irritação, inquietação e agressividade por parte da criança. Muitas crianças, apresentam rigidez para se alimentar como por exemplo:
• Aceita comer alimentos fora de casa. Porém, sempre no mesmo local (restaurante ou lanchonete);
• Aceita alimento somente de uma marca específica;
• Algumas crianças precisam se alimentar com distrações como brinquedos, aparelhos eletrônicos ou música;
• Algumas crianças preferem alimentos com textura crocante ou seco;
• Algumas crianças precisam sempre dos mesmos utensílios para se alimentar;
• Comem sempre o mesmo alimento;
• O alimento precisa ser sempre preparado da mesma forma;
• Preferência por alimentos da cor branca e amarela;
• Se recusa a provar novos alimentos.
Com tantas restrições, é possível notar deficiências nutricionais principalmente de micronutrientes provenientes das frutas, legumes, verduras e fibras. E somada a essa alimentação seletiva, identifica-se a desnutrição, sobrepeso, obesidade, problemas gastrointestinais, alergias alimentares e baixa imunidade.
Após realizar uma avaliação nutricional ampla, é necessário conhecer quais são os grupos alimentares que a criança aceita e identificar a frequência da ingestão de frutas, verduras, legumes, fibras e ômega 3 e sendo necessário, realizar suplementação de macro ou micronutrientes. Essa suplementação deve ser compatível com a idade, sexo, peso, estatura e principalmente, estar associada a TERAPIA ALIMENTAR com foco no consumo de alimentos via oral. Ou seja, a criança pode estar suplementada, mas, é MUITO importante que ela tenha INGESTÃO DE ALIMENTOS diariamente. No acompanhamento, o nutricionista precisa da participação do Fonoaudiólogo, Terapeuta
Ocupacional e Psicólogo. Esses quatros profissionais, conseguem juntos, promover avanços e maior aceitação de alimentos para a criança com TEA.
Se você tem um filho com TEA já deve ter lido ou alguém te contou, que existem dietas que melhoram o tratamento da criança. Essas dietas, normalmente são restritivas. Ou seja, é retirado alguns alimentos ou nutrientes da alimentação do seu filho com o objetivo de melhorar o tratamento dele. As dietas mais conhecidas para crianças com TEA são:
• Dieta cetogênica – alto consumo de gorduras e baixo consumo de carboidrato e proteínas;
• Dieta pobre em oxalato – substância encontrada em espinafre, beterraba, cacau, grãos, nozes etc.;
• Dieta sem glúten e sem caseína – nutrientes encontrados em pães, bolos, tortas, massas, leites e os seus derivados.
É necessário ressaltar que não existe uma recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria ou de Nutrição que, ao aplicar dietas restritivas em crianças com TEA, elas apresentaram melhoras significativas em seu tratamento ou comportamento. Algumas pesquisas encontraram resultados positivos ao aplicar dietas restritivas em crianças com TEA. Porém, sabe-se que, a seletividade alimentar é uma comorbidade na criança. Portanto, ao optar por uma dieta restritiva, a família, precisa ter consciência que será por um período longo e a restrição deve ser contínua para então, identificar melhora no tratamento da criança. Particularmente, considero que, é necessário avaliar cada criança e assim, propor uma terapia nutricional que seja possível aplicar e que principalmente pode contribuir no tratamento da criança. A alimentação é uma excelente forma de auxiliar no tratamento. Porém, é preciso cautela e responsabilidade quando for orientar uma família. A terapia ideal é, fornecer um aporto calórico adequado com o objetivo de evitar desnutrição, sobrepeso, obesidade, deficiências nutricionais e reduzir os sintomas gastrointestinais nesses pacientes.