Pode acontecer numa bolada durante o futebol, na praia com sol forte ou então “do nada”, no meio da madrugada, e lá se vai lençol e fronha com lagos de sangue. A epistaxe, que é o nome dado a sangramentos nasais, pode ocorrer tanto no repouso quanto no movimento e, dependendo do volume, pode necessitar de ajuda médica para resolver.
Precipitantes
Crianças com rinite, as quais coçam muito o nariz, o cutucam com frequência são candidatos a terem sangramentos nasais. A região anterior do septo nasal (parede que divide um lado do outro) é repleta de vasos sanguíneos, chamada região de Kisselbach (figura1), onde a grande maioria dos sangramentos acontecem, seja por manipulação com o dedo da criança, seja por ressecamento da mucosa local por falta de hidratação do nariz. Na vigência de gripe ou sinusite, pela secreção nasal mais abundante, o ato de assoar o nariz frequentemente e a própria manipulação com os dedos da criança pode ser motivo para laivos de sangue no lenço ou até sangramentos mais evidentes.
Figura 1: Região de Kisselbach, onde mais comumente ocorrem os sangramentos nasais.
Mas o que fazer imediatamente, na hora que acontece? As crianças podem se desesperar com o sangue pingando e os pais precisam manter a calma e saber o que fazer. Sabendo que a maior parte dos sangramentos nasais são provenientes de vasinhos que estouram na região bem anterior do nariz, a compressão manual do nariz é uma atitude que costuma resolver a maioria dos casos. Assim, quando o sangramento tem esta origem, segurar o nariz como se seus dedos fossem um pregador de roupa faz com que estes vasinhos que estão sangrando sejam comprimidos e tenham mais chance de formar um coágulo ao redor e, após a compressão, não voltar a sangrar. O ideal é que você conte no relógio em torno de 3 minutos segurando como na figura 2 para que tenha este efeito. Não precisa colocar a cabeça para trás, basta segurar desta forma. Colocar compressa gelada por fora do nariz também pode ajudar a estancar o sangramento.
Figura 2: Modo efetivo de comprimir o nariz na vigência de um sangramento nasal.
Se o sangramento não vem desta região mais anterior do nariz e sim de vasos mais calibrosos posteriores da nossa fossa nasal, mesmo havendo esta compressão anterior com os dedos, o sangramento pode continuar e descer pela garganta, fazendo com que o paciente sinta-o na boca. Nestes casos, os pacientes passam a cuspir ou engolir sangue. É necessário procurar imediatamente ajuda de seu otorrinolaringologista pois quando são sangramentos volumosos e/ou posteriores é importante que o nariz seja visto com uma câmera para identificar onde é o sangramento e o local a ser cauterizado.
O procedimento de cauterização nasal é feito em consultório, com colocação de um gel anestésico no nariz para que não haja dor, e em seguida é colocada, na região onde há o sangramento, um ácido chamado ácido tricloroacético. Isto não impede completamente o retorno do sangramento mas diminui a possibilidade, em conjunto com as medidas de hidratação nasal.
Após um episódio de sangramento nasal, é importante pelo menos nos 2-3 dias subsequentes que se evite locais muito quentes, exposição direta ao sol, banhos quentes prolongados para minimizar a chance de novo episódio de sangramento.
Prevenção
A melhor maneira de prevenir sangramentos nasais é a hidratação da mucosa do nariz com soro fisiológico. Em clima seco, a superfície que recobre o nariz por dentro pode ressecar e, com isso, os vasos finos que estão em abundância no septo nasal (parede que divide um lado do outro) anteriormente podem “estourar” e a melhor forma de evitar é impedir esse ressecamento, com hidratação nasal em forma de soro fisiológico. O soro pode ser em spray, gota, jato, com bisnaga, com seringa, da forma que a criança preferir.
Caso mesmo após adequada hidratação nasal, controle da rinite ou término de um quadro gripal a criança continue tendo sangramentos nasais recorrentes, é importante procurar ajuda de um otorrinolaringologista para exame detalhado das fossas nasais, com avaliação da coagulação do sangue concomitante.