Em minha experiência médica diária, percebo três tipos de bebês, cujo temperamento mostra-se desde os primeiros dias de vida. Temos os bebês hipoativos, os normativos e os hiperativos. Os bebês hipoativos são bastante calmos, mamam e dormem, não reclamam, mesmo que a mãe não tenha leite suficiente, ou nem por estarem agasalhados demais. São bebês que vão crescer mais calados e que, aparentemente, aceitarão os fatos os quais acontecerão ao seu redor, sem reclamar.
Os bebês normativos são os que consideramos equilibrados. Que têm reações a tudo que os cercam, mas com moderação, reclamam com menos intensidade, vivem melhor, sem ansiedade e problemas de saúde.
Já os bebês hiperativos são aqueles que, já nos primeiros dias de vida, arregalam os olhos, passam mais tempo acordados, franzem a testa muito precocemente e reclamam de tudo: do leite se não sair adequadamente; do incômodo da roupa; de ficar sozinho. Eles não ficam quietos um minuto. Adoram passear, desde os primeiros dias de vida, principalmente, de carro. E reclamam ao parar no sinal vermelho.
Esses bebês vão crescer reclamando de tudo e de todos. Choram por tudo. Levam tudo à boca com mais intensidade. Caem mais e sofrem mais acidentes por causa da grande energia e vontade de explorar tudo a sua volta. Falam muito, gesticulam o tempo todo e fazem várias atividades ao mesmo tempo. Precisam de espaço e não se adaptam a rotinas ou atividades paradas. Na escola, a dificuldade é ficarem sentados por quatro horas.
Os pais e o pediatra devem estar atentos para saber conduzir e orientar, desde cedo, essas crianças, para evitar problemas futuros. Elas, se bem conduzidas, tornar-se-ão pessoas batalhadoras, mais competentes, com grande capacidade de realização pessoal. É importante a orientação correta, para que canalizem sua energia, tanto na positiva construção do conhecimento, como do lazer.
O maior desafio para todos nós são os falsos hiperativos, aqueles que parecem, mas não são. Como assim? Exemplificamos. Com muita frequência, encontramos mães reclamando que seus filhos não param, pulam o tempo todo, são agressivos, dormem mal, batem-se a noite toda, não comem bem. Numa avaliação mais profunda, encontraremos crianças com dor, geralmente, por uma esofagite, por refluxo gastroesofágico e, como não sabem dizer o que sentem, tentam, de todas as formas, livrarem-se da dor com essas atitudes. Parece um hiperativo, mas, com o tratamento correto, transformam-se em crianças calmas e dóceis.
Outro exemplo são os bebês, crianças ou até adultos que têm dor por alergia ou intolerância a algum alimento – a mais comum tem o leite como causa –, tornando-se, também, pessoas com manifestações de hiperatividade. A partir do momento em que se tira ou se troca a alimentação, também muda o comportamento.
Há, também, os bebês que passam fome, e, por isso, ficam hiperativos, e quando são alimentados adequadamente passam a dormir e ficar bastante calmos. Crianças com verminose, que se tornam hiperativas, por causa da dor e da coceira, e não param, nem para dormir; tratadas, voltam a ser doces.
E como ficam aquelas crianças que não conseguem desenvolver-se na escola, além de ninguém conseguir ficar perto, devido a sua agitação? Uma grande maioria torna-se assim porque os pais e familiares estão em conflitos ou a agridem e ela responde com hiperatividade, numa resposta à agressão vivida. Crianças rejeitadas pelos pais, para chamar a atenção, para receber a atenção ou até para unir os pais novamente. Portanto, existe uma gama de causas que podem levar à hiperatividade e que podem ser resolvidas, desde que se identifiquem as causas e as tratem.
Lembremos: sempre que nos depararmos com alguma criança hiperativa, antes de medicá-la, procurar, exaustivamente, uma causa física, caso não encontrar, ir à busca de um fator emocional. Com certeza, acertaremos, na grande maioria dos casos.
Fonte: Dr. Cecim El Achkar é pediatra