Sim, pode. Nesta edição, vou explicar algumas formas mais comuns de otite, cujos tratamentos são bastante diferentes entre si.
Otite média aguda
É caracterizada por dor, geralmente forte, súbita, sendo vírus o principal agente etiológico. A dor ocorre, pois, temos um espaço bastante pequenininho dentro do ouvido (círculo vermelho na figura 1), ou seja, para dentro da membrana do tímpano e, quando este espaço é preenchido rapidamente por secreção, a dor é inevitável. Geralmente cede com anti-inflamatórios não hormonais e não necessita de antibióticos. A velha e boa técnica de esquentar um paninho e colocar no ouvido faz sentido: o aquecimento diminui a dor e pode até precipitar o vazamento do ouvido (otorreia), que nada mais é do que microperfurações da membrana do tímpano pelas quais sai o catarro acumulado, aliviando a dor.
Pode ter associado sintomas gripais como coriza, tosse, febre e indisposição. É necessário a avaliação cuidadosa de um otorrinolaringologista, para adequado diagnóstico e conduta.
Figura 1 – Círculo vermelho mostra a orelha média, onde pode se acumular catarro.
Otite média secretora
Esta é a otite que pode não doer. Nela, também há secreção dentro da orelha média mas como geralmente a instalação é mais lenta, não gera o desconforto como uma otite média aguda descrita anteriormente. O sinal que se faz suspeitar de otite secretora é a perda parcial da audição. A criança pode ficar mais desatenta, pedir para aumentar volume de TV ou telefone, ficar perguntando para pais repetirem falas que não conseguiram entender. A causa mais comum é aumento de tecido adenoideano ou também conhecida como “carne esponjosa”. A adenoide pode crescer além do normal em crianças de 2-6 anos e, com isso, fechar o canal que comunica o nariz com os ouvidos chamado tuba auditiva (bem identificada na figura 1).
A otite secretora pode então vir acompanhada de sintomas de aumento de adenoide como roncos, sono agitado, babação no travesseiro, respiração oral noturna e diurna. Como não costuma doer, o diagnóstico de otite secretora pode passar batido se não houver atenção a respeito de características da audição da criança, como trocas fonêmicas, atraso de início da fala, pobre rendimento escolar, desatenção na escola e até comportamentos mais desafiadores.
O tratamento da otite secretora varia desde melhora exclusivamente da função nasal ou até tratamento com medicamentosa via oral ou ainda procedimento minimamente invasivo com a colocação de drenos ou também chamados tubos de ventilação, para que o ouvido “respire” melhor, associado a retirada das amígdalas. A avaliação da acuidade auditiva da criança é fundamental nos casos de otite secretora, feito por fonoaudiólogas.
Otite externa Como o próprio nome diz, a otite externa é uma inflamação na parte externa do ouvido, ou seja, para fora da membrana timpânica. A dor é bastante intensa, geralmente há história de ter frequentado bastante piscina ou mar ou manipulação com haste flexível (cotonete). Este tipo de otite é muito comum no verão, quando há muita exposição à água, criando umidade propícia à proliferação de fungos e bactérias no canal externo do ouvido. O tratamento envolve evitar molhar o ouvido por uma semana, enquanto é feito tratamento com gotas de antibiótico e/ou antifúngico no ouvido afetado. Não está recomendado o uso de protetores auriculares preventivamente, exceto nos pacientes que tenham tido otite externa com frequência.