Dr. Moisés Chencinski
“Brincar é coisa de criança”. Você provavelmente já ouviu (ou já disse) essa frase. Mas será que é isso mesmo? Segundo os dicionários (Houaiss e Aurélio), brincar é se distrair com jogos infantis, com um objeto ou uma atividade qualquer; como: pular, correr, se agitar, se divertir infantilmente, foliar e dançar.
O Artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança da ONU diz: “Toda criança tem o direito ao descanso e ao lazer, e a participar de atividades de jogo e recreação, apropriadas à sua idade, e a participar livremente da vida cultural e das artes”.
Se eu disser que brincar cumpre muitas funções fundamentais ao desenvolvimento das crianças e dos adultos e que não é necessário nenhum brinquedo para isso, você pensaria que eu estou… brincando?
Eu poderia tentar convencer a todos, dizendo, “cientificamente”, que brincar:
– exercita potencialidades, favorece o conhecimento, sociabiliza, sensibiliza e desenvolve intelectual, física, social e emocionalmente (psicomotricidade, linguagem e criatividade);
– estimula o pensamento e os sentidos através de atividades do dia-a-dia (mudar as coisas de lugar, bater a mão na mesa, brincar com bichos ou atirar coisas no chão, na parede, etc.);
– exterioriza sua realidade interior, libera sentimentos e expressa opiniões;
– ensina a seguir regras, experimenta formas de comportamento, tem papel decisivo nas relações entre a criança e o adulto, entre as próprias crianças e entre a criança e o meio ambiente;
– cria meios para tornar as crianças responsáveis, atenciosas, trabalhadoras;
– ensina a trabalhar em grupo, a compartilhar, negociar, solucionar conflitos e a defender pontos de vista.
Ficou claro? Convenci vocês? Está política e cientificamente correto? Mas não existe uma forma mais divertida de entender essa questão e, mesmo assim… brincar?
As crianças se espelham nos adultos próximos e queridos (familiares e professores, por exemplo). Assim, temos nossa parcela de responsabilidade, até em ensinar as crianças a não levarem tudo tão a sério e de forma tão adulta. Ou será que nós não podemos aprender com as crianças a sermos responsáveis apenas na medida e que podemos brincar mais com a vida, com as pessoas, com nossos filhos?
Tempo e espaço. É tudo o que nós precisamos para brincar. De quanto espaço precisamos para sonhar? Quanto tempo é necessário para sorrir?
A criança pode brincar com adultos, com outras crianças de qualquer idade e é importante que aprenda a brincar até sozinha, estimulando sua imaginação. Pode-se brincar com ou sem brinquedos e é importante que a criança conheça e use as duas possibilidades.
Mas é no seu espaço, no seu lar, na sua família, que se forma a base de seu mundo de agora e de todos os tempos. Tempo e espaço. Diversão sem brinquedos pode ser a chave para unir mais a família.
Muitas vezes, tentamos suprir nossa ausência e amenizar nossa culpa através de presentes, dando brinquedos para que nossos filhos se ocupem, enquanto não temos tempo ou espaço para eles em nossas vidas. A melhor brincadeira para eles (e para nós, sem nenhuma dúvida) é aquela que jogamos juntos, transmitindo nosso entusiasmo.
E se nós priorizássemos, em busca de um futuro melhor para nosso mundo, um tempo e um espaço em nossa atribulada agenda para brincar com nossos filhos? Especialistas garantem que meia hora diária para brincar com os filhos é suficiente para incorporar essa atividade importante na rotina familiar. Baseado nessas opiniões e aproveitando uma campanha brilhante que já existe, eu proponho criar um movimento: O Agita família.
São apenas 30 minutos (tempo), em casa ou em algum outro lugar (espaço), que os pais podem dedicar a brincar com seus filhos de qualquer idade. Brincar de roda, contar histórias, esconde-esconde, fazer bolinhas de sabão, correr, pintar, dançar, fantasiar, amarelinha, pega-pega e muitas outras possibilidades que quase todos nós brincávamos quando crianças.
Junte-se a esse movimento, brinque e vamos sair do “sedentarismo familiar”.
*Dr. Moisés Chencinski é pediatra e homeopata