A maior preocupação dos pais nas megametrópoles é proporcionar para o filho brincadeiras e divertimentos tradicionais, longe dos computadores e jogos eletrônicos. Difícil de “tira-los do mundo em que vivem”, a grande missão é equilibrar a vida das crianças para que elas consigam simplesmente brincar. Em cidades grandes como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, onde a violência inibe as brincadeiras de rua, o grande desafio é proporcionar uma infância de qualidade. Brinquedos tradicionais, jogos, lápis e folhas de rabisco começam a desaparecer das prateleiras, dando lugar aos jogos como DS, Wii e tantos outros.
Daniella Freixo de Faria, terapeuta infantil, chama a atenção para a construção do equilíbrio. Para ela todas as atividades são importantes, inclusive os jogos eletrônicos que desenvolvem atenção, habilidade motora fina e noção de sequência, entre outras coisas. Essas atividades devem ser parte do cotidiano das crianças e não ser o próprio: “Os pais que conseguirem conciliá-las com as atividades que envolvem movimento do corpo de forma ampla como nadar, jogar futebol, pular corda, andar de bicicleta, além dos tradicionais jogos de tabuleiro – que são reflexivos -, terão crianças super saudáveis.
“E claro, não podemos deixar de lado o encantamento dos livros de história que desenvolvem a imaginação e aprimoram a leitura, a escrita e o vocabulário das crianças”, diz a terapeuta. “O desafio não é simplesmente colocar regras para a utilização de videogames, mas principalmente, conseguir despertar o interesse dos pequenos por outras atividades. O corpo sente, a mente sente, a criatividade sente, a autonomia sente, o desenvolvimento sente, e principalmente, as relações e vínculos sentem” completa Daniella.
O personal Trainer Luiz Carlos Braga comenta que recebe muitos pais pedindo ajuda porque os filhos apresentam dificuldades ligadas ao corpo: “Tenho um aluno que apresentava problemas de coordenação motora e não conseguia sequer jogar uma bola em minha direção. Depois de várias idas ao parque Ibirapuera, consegui reverter essa situação e hoje ele anda de bicicleta, joga bola e pratica vários outros esportes. Como muitos pais que trabalham, os dele não têm tempo pra brincar, então deixavam o menino com a babá em casa jogando videogame. Comenta o educador. “Hoje, além do computador, ele tem aulas de esporte em parques, para ter contato com a natureza, coisa difícil aqui em São Paulo”, finaliza Luiz Carlos.
Além desses problemas relacionados acima, as atividades eletrônicas acarretam também problemas na visão: “Certos hábitos cada vez mais precoces na vida das crianças, como o uso constante do computador, podem influenciar no surgimento de problemas na visão das crianças” comenta o oftalmologista Leo Carvalho.
A dica da terapeuta para que todas as atividades aconteçam de forma saudável é verificar qual o melhor jogo para a idade do seu filho. Outra dica é colocar regras, quando e quanto tempo os filhos podem brincar com os eletrônicos. Pois, além de não poder substituir outras atividades, não deve substituir a oportunidade de a família estar reunida (coisa rara devido à grande carga de trabalho dos pais). É importante construir essa dinâmica com as crianças, pois cada uma tem sua própria reação. Os games podem fazer parte da vida dos baixinhos de forma natural, intercalados com outras atividades. Caso contrário, a compulsão e o desinteresse contaminarão seu dia a dia. Os pais devem evitar que seus filhos cheguem nesse momento.
E por último, a dica é jogar videogame sempre acompanhado. Seja pelos pais, por amigos, criando uma oportunidade para a troca, o diálogo, a diversão com o outro e gerando, neste encontro, uma parceria perante os desafios do jogo.
Com este estado de alerta os pais conseguem curtir todos esses momentos com as crianças além de vê-los curtir também, de forma saudável, produtiva, alegre e divertida.
Os videogames não são uma novidade. Desde os anos 80, quando as marcas Atari e Nintendo alavancaram suas vendas, esse questionamento já existia: “Lembro-me claramente de passar várias tardes jogando Super Mario Bros, Enduro ou Pacman. A diferença hoje talvez seja o quanto, como, quando e com quem exercem estas atividades. O que me preocupa é que hoje as crianças escolhem diariamente, em todos os seus momentos livres, esse tipo de diversão”, finaliza a terapeuta.