Dentre os públicos que atendo, um deles é formado por crianças e adolescentes, onde observo, em certos casos, sinais indicativos de autismo, mas que os pais não têm ainda o diagnóstico fechado, feito este por um médico.
Dados de 2021 do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, apontam que 1 em cada 36 crianças tem autismo. No Brasil, segundo o IBGE (2010), 1 em cada 150 crianças apresentam tal condição, numa proporção de 3 para 1, quando se fala em meninos e meninas, respectivamente.
Os primeiros sinais podem ser observados logo nos primeiros dois anos de vida, quando acontece a maior parte do desenvolvimento cerebral. Inicialmente o atraso no desenvolvimento da linguagem e a ausência de interesses sociais ou interações sociais comuns. Já no segundo ano de vida, é preciso ficar atento a comportamentos estranhos e repetidos, assim como ausência de brincadeiras típicas.
Além dos sinais ligados ao comportamento como um todo e à comunicação, pode-se observar algumas complicações alimentares típicas, como seletividade alimentar; recusa alimentar; baixa ingestão alimentar (em certos casos, comer de modo compulsivo, varia de acordo com cada indivíduo ou no mesmo paciente, ao longo dos anos); preferências por carboidratos e alimentos processados; e o Transtorno da Pica (Picamalácia), que é o desejo por consumir coisas que não fazem parte de alimentação, como por exemplo a terra, dentre outros.
Em relação à seletividade alimentar, em especial, é possível notar uma hipersensibilidade sensorial, em relação à textura dos alimentos, temperatura, forma de apresentação e até mesmo coloração, sabor, cheiro. Por isso, ocorre muita resistência em se provar novos alimentos, restringindo bastante a variedade de alimentos consumidos, dentro de cada grupo alimentar, o que reduz significativamente a ingestão adequada de vitaminas, minerais e fibras, presentes especialmente nos vegetais e frutas.
Um artigo de revisão publicado em 2014 no jornal científico Pediatrics, da American Academy of Pediatrics revelou que crianças com autismo apresentam cerca de 4 vezes mais chances de terem distúrbios gastrointestinais, com destaque para a diarreia e a constipação intestinal. E dentro deste contexto, é de suma importância avaliação da microbiota intestinal destes pacientes, já que o intestino é considerado o segundo cérebro.
Por isso, muitas vezes se faz necessário o uso de uma suplementação, até que haja uma melhora do padrão alimentar destes pacientes, afinal, é um caminho a ser percorrido com muito acolhimento e respeito às individualidades de cada criança e analisando cada contexto familiar também. Dentre os suplementos que podem ajudar a melhorar o quadro, estão os seguintes:
- Vitamina D – estudo publicado no Journal of Child Psychology and Psychiatry descobriu que crianças com autismo são mais propensas a ter deficiência de vitamina D. A suplementação com este micronutriente pode ajudar a melhorar os sintomas do autismo. A vitamina D é essencial para a saúde dos ossos e para o funcionamento do sistema imunológico;
- Ômega 3 – esses ácidos graxos, considerados gorduras essenciais, são importantes para o bom funcionamento do cérebro e podem estar em baixas concentrações em crianças autistas. A suplementação, neste caso, pode ajudar em aspectos como a interação social, comunicação e comportamento;
- Probióticos – como já destacado anteriormente no texto, os probióticos (bactérias benéficas para a saúde intestinal) podem ser grandes aliados para melhorar o quadro destes pacientes. Eles podem ajudar no equilíbrio da microbiota intestinal, que pode estar em disbiose (desequilíbrio entre bactérias “boas” e “ruins” no intestino). Também são importantes na função do sistema imunológico. Crianças com autismo podem apresentar esse desequilíbrio de bactérias intestinais, o que pode contribuir para problemas gastrointestinais e comportamentais;
- Vitamina B6 e Magnésio – não só a vitamina B6, como as do complexo B, de um modo geral, podem atuar de forma significativa na saúde mental.Em especial a Vitamina B6, junto ao Magnésio, é importante para a função dos neurotransmissores, o que pode contribuir na melhorar do comportamento e a comunicação em crianças com autismo. Um estudo publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders aponta que a suplementação com vitamina B6 e magnésio melhorou a socialização, a comunicação e o comportamento em crianças com autismo.
Dentro deste cenário é necessário muito carinho e compreensão, sendo o papel do nutricionista, em conjunto com outros profissionais da saúde, de suma importância na orientação da família destas crianças, a fim de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e da família como um todo.