É comum ouvir de gestantes e mães que acabaram de ter filhos perguntas sobre como emagrecer ou voltar a ter o corpo anterior à gravidez. Mas antes de pensar em respostas, é preciso compreender o que está por trás destes questionamentos tão aflitos.
Fica evidente o desconforto com a própria aparência denotado por muitas mulheres, questão que se repete para além da gestação, mas que, neste momento, pode impedir que elas aproveitem plenamente seu corpo e as transformações incríveis desta fase. São as marcas externas, estas do corpo, que refletem toda o enriquecimento interno pelo qual a mulher/mãe passou e continua passando.
Claro que o excesso de gordura corporal pode trazer problemas de saúde para a mãe e para a criança e uma boa alimentação é essencial. Entretanto, uma dieta equilibrada, bem orientada por um profissional nutricionista, em conjunto com o hábito da amamentação – que, salvo exceções, deve ser exclusivo até o sexto mês – garante a saúde da puérpera e do bebê, sem precisar sofrer com dietas restritivas, num momento que já traz tantos medos e inseguranças.
O ato de se alimentar é muito mais que um mero mecanismo para moldar um corpo invariavelmente imperfeito e que precisa atender a algum padrão externo de beleza do qual as mulheres são tão cobradas e, por isso, o prazer proporcionado pelo alimento não deve se tornar o maior vilão na conquista da aparência desejada.
Mas não é por acaso que dietas que propõem alimentos ou preparações azedas e amargas fazem tanto sucesso – especialmente em jejum, afinal quanto maior a tortura, melhor – e reforçam o imaginário sobre a relação entre alimentação, culpa e punição. Especialmente no pós-parto, isto pode acarretar ainda mais problemas, não só de ordem nutricional, mas também psicológica, com consequências para a mulher e a criança.
É preciso refletir sobre o porquê deste incômodo com o próprio corpo, o qual se aprendeu a não gostar, antes mesmo de conhecer e aproveitar todas as suas potencialidades! As mudanças, independente do processo da gestação/amamentação, vão acontecer até o final da vida e olhar para estas transformações como algo rico e positivo pode ser libertador.
Tomar atitudes que vão trazer sofrimento para que, talvez, se alcance um padrão considerado “adequado”, mas totalmente separado daquilo que a mulher pensa, sente e nutre com relação a si mesma só faz acumular frustrações e, muitas vezes, a própria família reforça esses comportamentos, cobrando a mãe sobre sua aparência.
Essa dinâmica cruel costuma ser pano de fundo para motivar a busca por soluções mágicas que possam acabar com o sofrimento. Neste ponto entram as famosas dietas que prometem milagres desde que seguidas tal como um ritual de purgação. E algumas, inclusive, ajudam a alcançar resultados mais imediatos, embora escondam danos futuros à saúde e ao bem-estar físico e emocional.
Entender de que forma esse processo acontece para cada pessoa e quais os seus impactos nos hábitos de vida ajuda a ultrapassar objetivos estéticos, proporcionando bem-estar real e melhora da autoestima, embora não seja tarefa fácil, pois precisa do apoio e compreensão de todas as pessoas em volta!
Independente do objetivo específico que se trace em relação a uma mudança no hábito alimentar deve-se entender que a mudança começa de dentro para fora. Como cuidar de algo que não conhecemos plenamente, a não ser como um estorvo estético? Como nutrir um corpo o qual não amamos de verdade?
O primeiro passo deve ser olhar com carinho para esse corpo que habita e é capaz de trazer prazeres e satisfações tão incríveis! É com ele que a mulher poderá superar suas dificuldades diárias, sentir prazer e trocar afetos, não só com o bebê que acaba de chegar.
Portanto, antes de falar sobre o que comer ou deixar de comer, é essencial fazer uma reflexão sobre o que se está deixando de aproveitar com esse corpo que lhe foi dado e que a vida e os hábitos vêm moldando dia após dia! Quanto, de fato, se está aproveitando de todas as suas potencialidades enquanto ser humano?
As mulheres são capazes de coisas incríveis – e se tornar mãe é apenas mais uma prova disso – portanto, não precisam de nenhum tipo de tortura ou purgação para alcançar seus objetivos e sonhos. Mas é necessário, isso sim, de amor para consigo mesma e o seu próprio corpo para que se possa nutri-lo de verdade!
Fonte: Josi Freitas de Melo. Nutricionista, CRN-3: 26020. Especialista em nutrição clínica e terapia nutricional enteral pelo Ganep Nutrição Humana. Analista de saúde na Prefeitura de São Paulo. Atende no Consultório Cuidar – Pediatria e Cuidado Integral em São Paulo – www.cuidarpediatria.com.br