O ato de comer vai além das nossas necessidades fisiológicas. É algo que está ligado ao prazer de consumir aquilo que nos remete a um sabor da infância, por exemplo, de uma receita que a avó fazia, que aquece a alma – existe até um termo para isso: comfort food, ou em português comida afetiva, aplicada a todo alimento que é consumido com a finalidade de proporcionar alívio emocional.
Com a chegada das festas de final de ano, boa parte das pessoas vive um momento nostálgico, no quesito alimentação. Entretanto, existem aquelas que não se sentem muito confortáveis com o período, já que lembram de quem não está mais aqui fisicamente, e ficam tristes, ainda que seja um momento de celebração.
A relação com a comida está intimamente ligada ao prazer e ao fato de compartilhar esses momentos com quem amamos. E quando falamos do ambiente familiar, em especial, ele é extremamente importante para a construção do nosso paladar, do que escolhemos, pela influência que a comida exerce em nós.
É possível sim consumirmos algo prazeroso, que muitas vezes pode ser calórico, afinal alimentos gordurosos possuem uma palatabilidade agradável – basta vermos os exemplos dos industrializados, que são viciantes, não somente pelo açúcar de adição, como também por outros ingredientes que garantem esse sabor agradável ao paladar.
E nas festas de final de ano, ainda que seja uma receita preparada com alimentos frescos, também são utilizados “os tais” dos industrializados. Até aí, tudo bem, afinal podemos nos render a eles vez ou outra. A questão é a educação alimentar que temos nos primeiros anos de vida, afinal, criança é “esponja” e absorve qualquer tipo de comportamento que observa, inclusive, os hábitos alimentares.
Por isso, em momentos como as comemorações em família, como as que acontecem neste período do ano, é de suma importância que os pais orientem seus filhos em estabelecer uma relação prazerosa, mas com limites ao se alimentar. Não é necessário comer cinco rabanadas ou encher o prato com uma quantidade que irá causar desconforto após a refeição, só porque ali estão opções que são consumidas apenas nas ceias de final de ano.
Esse descontrole em relação aos hábitos alimentares também vale para a rotina ao longo do ano, como nas festinhas dos amigos da escola ou aos finais de semana em família, para depois seguir uma dieta extremamente restritiva nos demais dias. Isso não é ser saudável.
A reeducação alimentar, essa mudança sadia na relação com a comida (não a de recompensa, mas de um prazer comedido) que deve ser estabelecida. E são os pais sim os responsáveis por esse comportamento alimentar dos filhos, afinal, por mais independentes que as crianças e adolescentes sejam na geração atual, são os pais que são os provedores em casa e seus hábitos que irão moldar o futuro destes indivíduos na vida adulta.