A Síndrome de Down (SD) ou Trissomia do 21 é uma condição genética, citada por diversos pesquisadores como a alteração cromossômica mais frequente em seres humanos e a causa mais prevalente de deficiência intelectual. Segundo as diretrizes brasileiras de atenção à pessoa com SD (2013), há um nascimento com SD a cada 600 e 800 nascimentos, independente de etnia, gênero ou classe social.
Como características biomecânicas próprias da síndrome, podemos citar: a hipotonia, frouxidão ligamentar, dificuldades com controle de tronco, alterações posturais e de equilíbrio, e as alterações anatômicas no sistema nervoso central; que podem comprometer os mecanismos cerebrais que envolvem diversos processamentos, incluindo os sensoriais, os cognitivos, os de equilíbrio do corpo e os capazes de gerar antecipação ao movimento e reduzir riscos de quedas e eventos adversos à rotina da criança.
A aquisição de habilidades motoras em crianças com SD é um processo que ocorre de forma mais lenta que no desenvolvimento típico. Bebês com SD apresentam atraso no desenvolvimento motor, principalmente por conta da hipotonia e tendem a adquirir a marcha independente com cerca de 1 ano de atraso quando comparados a bebês com desenvolvimento típico. Por esse motivo, é de suma importância iniciar intervenção precoce o mais breve, e se possível, ainda recém-nascido.
Segundo estudos, crianças com SD, quando comparadas com crianças com desenvolvimento motor típico, apresentam dificuldades de controlar a força necessária para responder a perturbações externas, bem como restabelecer e manter a postura. Essas dificuldades podem refletir nas habilidades dinâmicas da marcha, aumentando, assim, a probabilidade de quedas. A marcha (andar) com base mais alargada; o comprimento do passo diminuído; o maior gasto energético; e a diminuição da resistência são traços clássicos que influenciam essa dinâmica (Teles, Baggio, 2014).
E dentre os desafios motores mais citados pelas famílias, a aquisição do andar independente se destaca. Dentro do campo da fisioterapia e reabilitação, chamamos de treinamento locomotor ou treinamento de marcha, uma prática fundamental para o acompanhamento de crianças com SD que visa proporcionar experiência motora, aumentando a probabilidade de reduzir a diferença de atraso na aquisição desse marco.
Esse treino é indicado a partir dos 11 meses de vida, e apresenta diversas possibilidades conforme a necessidade da criança: na esteira; com suporte parcial de peso (criança andando com auxílio de suspensão fixada ao teto e uso de macacão) ou sem. E dentro da evolução motora, com obstáculos, com texturas, calçado e até mesmo descalço.
Em especial na primeira infância, período que vai até os 6 anos de idade, temos uma fase de grandes ganhos para a criança. Habilidades motoras, de comunicação e linguagem, sociais, acadêmicas, de autocuidado e relativas ao ócio. Todas as crianças com SD precisam de acompanhamento interdisciplinar: pediatra, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, e de forma individualizada, novos profissionais podem ser necessários no decorrer dessa trajetória, como nutricionista, psicólogo e neuropsicopedagogo.
Como fisioterapeuta pediátrica deixo duas sugestões: a primeira, não espere passar idade ou etapas, busque uma avaliação de desenvolvimento motor com profissional capacitado. Se estivermos falando de um bebê, busque um programa de intervenção precoce imediatamente. A segunda, busque uma rede de apoio. Em todos os estados existem órgãos e instituições que podem dar orientações e direcionamentos importantes sobre saúde e questões jurídicas, além de proporcionar um ambiente acolhedor e de conexão entre famílias com experiências semelhantes.