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A força da rotina no autismo: como a estrutura do dia a dia pode transformar a vida de uma criança com TEA

Tempo de Leitura: 5 minutos
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A rotina do Gael começou no exato momento em que ele nasceu. Eu ainda não sabia que ele era autista, mas, por instinto, criei uma estrutura de horários bem definidos — e inegociáveis. Alimentação, sono, passeios, tempo de telas, atividades físicas: tudo tinha hora certa. Mesmo em viagens, a rotina era respeitada. E isso, sem que eu soubesse, estava preparando o terreno para um futuro diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Quando o diagnóstico chegou, aos três anos, tudo já estava no lugar. Apesar da avalanche de sentimentos, dúvidas e incertezas, a rotina já existia, e isso fez com que o impacto fosse menor. O que era natural em nossa casa passou a ser terapêutico.

Durante a pandemia, morávamos com Gael em uma casa com quintal então aproveitava muito o espaço para inserir atividades. Mesmo sem sairmos por meses, criei um verdadeiro “quartel-general de estímulos”: atividades físicas duas vezes por dia, teatrinho com alimentos, aula de inglês, brincadeiras pedagógicas e contação de histórias diariamente — detalhe: Gael na época era não verbal. Se chovia, virava música e pulo na cama até o número 50, duas vezes por dia — ele nem percebia que aquilo era estratégia para gastar energia e se exercitar. E funcionava. Todos os dias. Sem exceção. Até nos domingos.

Mas o mais importante é que tudo isso era feito de forma extremamente humanizada. Nunca foi uma imposição. Eu sempre respeitei o tempo de resposta do Gael, seu ritmo natural, suas pausas, seus silêncios. Utilizava seus hiperfocos do momento como ferramentas de conexão e seus reforçadores favoritos como estímulo positivo. A rotina era firme, mas afetiva. Estruturada, mas respeitosa.

Para a criança autista, a rotina é mais do que conforto: é uma âncora. Trabalhar com previsibilidade e antecipação das atividades é essencial. Eles se autorregulam quando sabem o que esperar — e isso reduz significativamente as crises de desorganização emocional. É a partir dessa base segura que a criança pode se desenvolver com mais tranquilidade.

O que dizem os estudos?

Diversas pesquisas em neurociência e psicologia do desenvolvimento apontam que crianças com TEA apresentam maior ativação da amígdala cerebral diante de estímulos inesperados, o que intensifica reações de medo e ansiedade. A previsibilidade da rotina ajuda a modular essa resposta neurobiológica, proporcionando uma sensação de segurança interna.

Estudos como o de Boyd et al. (2014), publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders, mostram que a presença de rotinas familiares estruturadas está diretamente associada à melhora nos comportamentos adaptativos e na redução de comportamentos desafiadores em crianças com TEA. Além disso, abordagens terapêuticas baseadas em ABA Naturalista (Naturalistic Developmental Behavioral Interventions – NDBI) reforçam que o aprendizado ocorre de forma mais eficaz quando inserido em contextos previsíveis e emocionalmente seguros.

A rotina, inclusive, deve ser pensada desde antes do nascimento. E após o diagnóstico, ela se torna inegociável. A família precisa se reorganizar por completo, ressignificar hábitos, rever ambientes e, principalmente, acolher as novas demandas que o autismo exige. O lar se torna a primeira clínica de amor e cuidado.

Sempre tive o cuidado de reduzir estímulos em casa. Nada de TV ligada enquanto Gael estivesse acordado, nada de sons altos ou excesso de conversas paralelas que o desorganizassem. Muitos se incomodavam com essas regras. Mas foram essas “regras” que deram tão certo que inspiraram o nascimento do meu Método 1:1 — uma forma estruturada e afetiva de cuidar e ensinar crianças com TEA ou Altas Habilidades.

Aspecto clínico-terapêutico:

Neuropsicólogos, psicomotricistas e terapeutas ocupacionais reforçam que a rotina é um dos principais pilares de regulação sensorial e emocional na infância atípica. Quando bem aplicada, a rotina favorece o desenvolvimento de funções executivas como organização, memória de trabalho, planejamento motor e autorregulação. Ela também diminui a sobrecarga cognitiva — algo comum em indivíduos com rigidez comportamental ou sensibilidade sensorial exacerbada.

Ainda tenho muito a compartilhar com vocês. Se você é mãe, pai ou cuidador de uma criança atípica, saiba que rotina não é rigidez: é acolhimento com afeto, paciência e estratégia. E pode ser a maior aliada no desenvolvimento do seu filho.

Acompanhe as próximas edições. Nossa caminhada está só começando — e cada passo importa.

Anna Flávia Camargo de Castro
Seja bem-vindo à minha coluna sobre maternidade atípica. Sou mãe de Gael, de 7 anos, autista de suporte 1, com hiperlexia e Altas Habilidades. Minha jornada começou com o diagnóstico de autismo do meu filho, sobrevivente de uma gestação trigemelar. Tornar-me assistente terapêutica e aplicadora ABA foi essencial para ajudá-lo. Nesta coluna, compartilho reflexões, desafios e aprendizados sobre maternidade atípica, usando meu “Método 1:1”, que inclui informações sobre nutrição, tratamentos integrativos, terapias multidisciplinares, manejo em ambientes naturais
e criação positiva.
@annaflaviacamargo_

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