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A “língua presa” e seus impactos

Tempo de Leitura: 4 minutos
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Woman with red hair holds little girl in plaid shirt

Por Lígia Conte*

Muitas famílias saem da maternidade ou de uma consulta com especialista com o diagnóstico de ANQUILOGLOSSIA de seu recém-nascido, a famosa “língua presa”. Isso é mais comum do que você possa imaginar, estando presente em grande porcentagem da população (gene dominante). A condição por muitas vezes preocupa as famílias, que rotineiramente, passa por esse processo sem a correta abordagem e acompanhamento.

Os impactos vão além do que muitas pessoas imaginam, com alterações importantes na amamentação, muitas vezes levando ao abandono da mesma. Entretanto, esses são só alguns dos problemas relacionados ao freio lingual alterado. Sabemos que existem impactos ortodônticos (mandíbula, atm, dentes…), impactos motores (alterações posturais, desvios de cervical e dificuldade de mobilização dos ombros), dentre outros. À medida que o tempo passa, novos desafios surgem por conta dessa condição conhecida como anquiloglossia, por isso, necessário sempre estar acompanhado de equipe multidisciplinar especialista.

Mas afinal o que é a “língua presa”? Ela pode ser definida como um tecido embrionário remanescente da linha média da língua, abaixo da superfície da língua e no assoalho da boca, que restringe o movimento normal da língua e de demais estruturas. Isso significa que um pequeno pedaço do tecido abaixo da língua pode impedir uma boa atuação de toda função deste importante músculo, e também da biomecânica do bebê.

Por isso, quanto antes houver diagnóstico, correção e reabilitação, menos a chance de impactos na vida infanto-juvenil e na vida adulta.

De acordo com uma reportagem da BBC e diversos outros estudos, acredita-se que a alteração do freio lingual seja um problema genético de causa ainda desconhecida. Ela é conhecida há centenas de anos, mas seu diagnóstico pode ser difícil por falta de habilidade e treinamento dos profissionais. Nos Estados Unidos, cerca de 8% das crianças com menos de um ano de idade sofrem com impactos língua presa, segundo uma pesquisa publicada em 2020, e temos certeza que o número é ainda maior pelos erros de diagnóstico.

Especialistas afirmam que a consciência sobre essa condição vem aumentando em todo o mundo nos últimos anos. Alguns países chegaram a ter um aumento de mais de 10 vezes dos casos diagnosticados — e, nos Estados Unidos, o número de diagnósticos e cirurgias de “língua presa” disparou, o que nos mostra maior conscientização sobre os impactos e diminuição de “manejos” que visam somente a introdução de leite artificial como solução para essa condição.

Logo nas primeiras 48 horas de vida do bebê, um profissional habilitado deve realizar uma manobra importante e cuidadosa na boca do bebê, elevando a base dessa língua para ter um diagnóstico preciso. Quando isso não acontece, vemos crianças encherem os consultórios por alterações subsequentes a um freio alterado mal abordado.

Os relatos dos pais e preocupações com as crianças são inúmeros, como problemas alimentares, de fala, escolioses posturais, alterações de pisada, de equilíbrio e coordenação motora, por exemplo. Tudo isso é tratado como alterações comuns à medida que ficamos mais velhos, quando na verdade poderíamos ter evitado se tivéssemos a correta condução de alteração de anquiloglossia e acompanhamento de reabilitação. Ainda faltam muitos estudos nessa área, mas cada vez mais, temos visto profissionais dando a devida importância a esta alteração de tão simples correção.

Por isso, é tão importância falarmos desse tema e trazer clareza sobre os efeitos na vida adulta. Há diversas formas de conduzir a abordagem do freio oral, sendo a mais comum a frenectomia a laser. Com anestesia local, em poucos minutos, o tecido remanescente é retirado e a mobilidade da língua é devolvida junto à reabilitação, assim como de outras estruturas corporais que são tracionadas anatomicamente.

É importante que as famílias fiquem atentas a qualquer problema na amamentação ou até mesmo sinais como irritação com frequência do bebê, pescoço curto, dificuldades posturais, excesso de gases e problemas de digestão, dentre outros. A soma de um olhar atento em casa e de profissionais que saibam lidar com essa condição pode garantir não só uma fase da infância tranquila, mas uma idade adulta sem consequências.

Dra. Lígia Conte

Fisioterapeuta especializada em desenvolvimento motor infantil e reabilitação neurofuncional

@desenvolvecrianca

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