Cada vez que assisto, leio ou ouço alguma matéria sobre violência doméstica, fico me perguntado como nos dias de hoje ainda nos comportamos de maneira tão “bárbara”. Como somos capazes de promover dor a alguém, seja ela física ou emocional.
Acho que o mundo carece de empatia!
Nos cursos de pais que promovo, costumo ouvir dos genitores que o que eles mais esperam dos filhos é que eles sejam calmos, alegres e obedientes. Quando menciono as palavras: raiva, tristeza e frustração, os pais se olham como se eu estivesse falando de sentimentos absurdos, intoleráveis e inadmissíveis para seus filhos.
Relatam que não querem ver seus filhos de cabeça baixa, entristecidos e que eles acham que devem promover aos filhos palavras de incentivo, do tipo: “tudo bem, tudo vai dar certo”! Que mau humor é sinônimo de algo ruim. Imagine que uma criança educada sob esses aspectos pode desenvolver uma crença interior de que se ela se sentir “dessa maneira” ela será ruim ou ingrata com seus pais.
Agora reflita comigo: ninguém é feliz, satisfeito ou positivo 24h/dia! Alguma coisa sempre pode acontecer e mexer com nosso humor. Imagine o que pode significar para um rapazinho de 10 anos ter sua coleção de gibis devastada por seu irmão mais novo de 2 anos! Imagine também esse mesmo rapazinho xingar seu irmãozinho de algum termo “pesado”! O que você diria?
Provavelmente, a tendência seria proteger a criancinha e dizer ao irmão mais velho que essas palavras são inadequadas (feias, grosseiras) e que essa não é a educação que você preconiza para eles! É como se o tempo todo estivéssemos dourando a pílula e negando o que a criança sente e vamos mostrando “formas” mais adaptativas de convivência (por adaptativa entenda: negar e não validar o sentimento alheio).
O que a criança aprende com o tempo é que ficar calado é a alma do negócio. Se ela tem um problema na escola, acredita que é melhor guardar para si, pois ninguém acolherá sua dor ou seu conflito. A tendência é que a criança vá para seu quarto e fique lá, sem incomodar ou oferecer “problemas”.
Aí como toda “família feliz” na hora do jantar os pais perguntam uns aos outros como foi o dia e a criança responde; “tudo bem”! Os pais se sentem satisfeitos e partem para um novo dia e assim por diante.
O que a criança aprende num ambiente assim, tão artificial? Que é melhor fingir, não demonstrar qualquer sentimento de fraqueza, não comentar com os pais seus problemas e que suas emoções são vistas como bobagens. O tempo vai passando, a criança agora é um adolescente.
Esse adolescente, sem repertório emocional, pode se tornar tímido e introvertido, “evitador” de conflitos e passar a desenvolver relações superficiais. Algumas pessoas desenvolvem artifícios para não pensar ou evidenciar as emoções que não puderam experienciar na infância. Adaptam outras coisas para colocar no lugar do vazio emocional: comer compulsivamente, jogar em demasia, comprar muito, entre outras.
E se as coisas pudessem ser diferentes?
Imagine que essa criança poderia ser criada num lar onde as emoções, não importa qual, pudessem ser expressas sem crítica ou vergonha – que os pais fossem empáticos com ela e gostariam de saber realmente sobre ELA? Que os pais dessa criança se interessassem pelos problemas dela – sobre o que ela sente, pensa e o que pretende fazer. Se ela quer a ajuda dos pais para dar e fazer o seu melhor.
Provavelmente, a criança em questão não desenvolveria uma máscara para sobreviver ao mundo, não precisaria suprir o vazio com os extremos (comer, comprar, jogar etc.), sentiria que seus pais a apoia e que pode recorrer a eles sempre que precisar. Que não necessita fingir do que não é ou sente. Seria maravilhoso!
Se pudermos transmitir as nossas crianças essa compreensão emocional (empatia), é muito provável que estaríamos incrementando a empatia e muito menos o criticismo. Estaríamos nos colocando no lugar dos filhos. Isso não significa que seja uma tarefa fácil, mas é uma questão de treino!