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Brincadeira de criança não é passar os dedinhos pelas telas

Tempo de Leitura: 6 minutos
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Por Lígia Conte*

Crianças brincando, pulando, colocando os pés no chão, fazendo descobertas, passeando ao ar livre, rindo, cantando, rolando…. são cenários comuns e saudáveis durante a infância. Brincar tem grande poder nessa e nas demais fases da vida, pois contribui para o potencial motor, intelectual e social que será necessário quando estiverem maiores.

No entanto, o que vemos ultimamente não são crianças tão ativas assim. Elas estão tornando-se cada vez mais sem movimento, permanecendo sentadas, passando seus dedinhos pequenos em uma tela enquanto a TV também está ligada. Assim, ficam por horas, mesmo estando em um parque, em um restaurante ou até mesmo em uma festinha.

Não podemos achar isso totalmente normal, já que vários trabalhos mostram que o excesso de telas atrapalha o desenvolvimento dos pequenos e traz grandes e sérias consequências para a vida adulta. É claro que tivemos uma situação preocupante com a pandemia e o uso desses aparelhos foram liberados sem medida, mas não podemos normalizar essa situação.

Enquanto a Sociedade Brasileira e Pediatria recomenda o tempo máximo nas telas de uma hora para crianças pequenas, acima de 2 anos, uma pesquisa da UFMG em parceria com outras universidades do Brasil, mostra que o tempo foi extrapolado excessivamente, de acordo com 51% dos pais entrevistados. Outros 24% responderam que os filhos tiveram entre duas e três horas de uso.

Já a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box – Crianças e smartphones no Brasil revelou um aumento do uso de telas de crianças de sete a nove anos. Em um ano, o índice passou de 30% para 43%, sendo que 19% das crianças utilizaram smartphones diariamente por três horas, e outros 24%, por quatro horas ou mais.

Ao permanecerem manuseando esses “gagdets” eletrônicos, as crianças ficam estáticas, quase nem piscam, e a única coisa que se move são as mãos, em movimentos repetitivos. Vale lembrar que a privação dos movimentos causa atraso de desenvolvimento e alterações sensoriais e motoras, inclusive de fala e linguagem.

A coluna cervical, responsável por grande mobilidade de todo o nosso corpo, permanece curvada enquanto a criança manuseia as telas. Essa posição, às vezes por horas, traz uma série de problemas posturais, dores e impactos inclusive no sono.

A falta de contato com atividade lúdica é outra situação que pode impactar para sempre a vida dos pequenos. O “não brincar” traz sérias consequências, mudando a visão do bebê e da criança sobre o mundo e o indivíduo inserido nele.

Além disso, a privação de luz natural, de contato com a natureza e de vivências em espaços abertos leva a distúrbios relacionados a comportamentos, alterações da visão e até mesmo criatividade. Infelizmente, a agressividade, comportamentos restritos sociológicos podem ser uma triste consequência para estes bebês que hoje estão viciados nas telas.

A Academia Americana de Pediatria (APP) recomenda, ainda, que os pais brinquem junto com os seus filhos, desenvolvendo a criatividade, linguagem e cognição, o máximo de tempo possível. Inclusive, o ideal é evitar as telas, principalmente, próximo da hora de dormir. Isso prejudica o sono, comprometendo o comportamento, o humor e a aprendizagem. Se os pais estão ocupados e não podem brincar junto com os seus filhos, ao invés de colocá-los na frente da TV, dando a ele um smartphone ou um tablet, é interessante que sugiram um jogo ou brinquedo adequado, sentem junto e tentem algo que vai incentivar muito mais que um vídeo, em inúmeros aspectos. É inclusive um trabalho e conexão parental que hoje está perdido.

Usar a mídia logo nos primeiros anos de vida parece uma forma acomodada de querer “cuidar” e distrair as crianças. Saiba, no entanto, que as telas não são e nunca serão os cuidados que elas precisam. não é porque os pequenos.

É claro que muitas vezes no dia a dia, os pais estão cansados, chegam do trabalho exaustos e ficam sem fôlego e sem repertório para brincar com as crianças. A ideia, porém, é estar junto e deixar a criança usar a imaginação com coisas simples que têm em casa. Muitas vezes, enquanto o cuidador lava a louça, é possível por exemplo distrair a criança oferecendo algumas tampas de plástico para que brinquem perto…ou até mesmo uma panela para que possam colocar alguns brinquedos dentro. A imaginação é quem manda.

O que não podemos deixar passar é que existem outras maneiras mais interessantes a serem seguidas e que valem muito mais a pena do que as telas.

O bem-estar dos adultos também é enormemente afetado positivamente por esta interação lúdica diária, diminuindo Cortisol e os sintomas do stress.

A minha mensagem para os pais é que aproveitem cada fase dos filhos, por mais desafiador que pareça, sem o uso de eletrônicos. Eles precisam do tédio, é nele que criam, e, com eles, nos tornaremos melhores e mais presentes, com certeza.

As brincadeiras têm um grande poder na primeira infância da criança, pois incentivam todo o potencial motor, intelectual e social que será necessário ao longo do seu crescimento. Saber quais são as atividades que contribuem para o momento presente do seu filho, respeitando sua faixa etária e capacidades, trará inúmeros benefícios para o seu futuro. Por isso, quero deixar aqui uma dica para as mamães: eu tenho uma aula chamada “Brinca & Desenvolve”, destinada para crianças de 2 – 5 anos, que tem como objetivo auxiliar o seu filho com brincadeiras divertidas e fáceis de realizar com tudo que você tem casa e ainda ajudar no desenvolvimento das crianças. Na aula você entenderá sobre o poder das brincadeiras e como cada uma delas age em determinada fase do crescimento infantil.
São mais de 50 atividades que podem ser feitas com utensílios de casa! Para saber mais e se inscrever, acesse: https://desenvolvecrianca.com.br/aula-brinca-desenvolve/

Lígia Conte

*Por Lígia Conte – Fisioterapeuta especializada em desenvolvimento motor infantil, reabilitação e neurofuncional. Instagram: @desenvolvecrianca

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