Escolher ser mãe não significa apenas assumir para si esse desejo que pode se manifestar por inúmeros motivos. Tal escolha pode estar relacionada às cobranças por parte dela própria e também da família e sociedade.
Tenho acompanhado muitas mães e observo a pressão que sofrem para buscar a perfeição quando o assunto é assumir a responsabilidade de ter um filho. Aceitam-na algumas vezes de forma sofrida e raramente se permitem falhar. Exigem-se dar conta veementemente de todas as funções que lhes cabem. Cobram-se ser perfeitas na vida pessoal e profissional. No caso da maternidade, sentem-se na obrigação de exercê-la de modo impecável, chegando a pagar o preço necessário a fim de reduzir ao mínimo os erros que podem cometer. Chegam muitas vezes ao limite do que conseguem suportar.
Observo mães que lutam para realizar tudo da maneira mais perfeita possível e encontram dificuldades quando percebem que o bebê é um ser que também tem vontade própria. E, quando elas se dão conta disso, dispõem da alternativa de recorrer a manuais com receitas que nem sempre dão certo.
Mas cuidar de um bebê pode ser aprendido?
Acredito que quando os cuidados com o bebê são realizados do modo mais natural possível, mais segurança é transmitida a esse pequenino ser, que, no início da existência, depende inteiramente de um adulto para sobreviver. Quanto mais a mãe (ou quem a substitua) estiver envolvida nos cuidados com o filho, que no princípio se resumem a amamentá-lo, trocá-lo, dar-lhe banho, acariciá-lo, embalá-lo, entre outros cuidados, mais chances ela terá de conhecê-lo e de satisfazer as necessidades dele, natural e espontaneamente.
Aprender a conhecer o recém-nascido, por meio de técnicas pode tornar mecânico o saber intuitivo das mães. Contudo, algumas informações podem mostrar-se preciosas, em especial quando se trata de “marinheiras de primeira viagem”.
Reflito sobre essas questões e sempre me pergunto: Até que ponto podemos ensinar as mães a serem mães e até que ponto podemos confiar nos manuais? Considero cada vez mais a possibilidade e a importância de as mães aprenderem a ser mães convivendo com os próprios filhos. No entanto, as orientações e sugestões relacionadas aos cuidados com eles podem ser muito bem-vindas. O acesso a elas é muito grande, pois são encontradas em diversos lugares. São inúmeras as publicações, livros, revistas, os blogs e sites na internet, etc., etc.
O mais difícil é conseguir filtrar essas informações, que muitas vezes podem ser contraditórias, chegando até a confundir algumas mães.
No início da vida do bebê, a segurança da mãe é primordial. Tudo é novo, a teoria é uma e, na prática, as coisas podem acontecer de um jeito muito diferente. Entretanto, a linha entre o aprendizado obtido de fora e a intuição materna no convívio e na prestação de cuidados ao bebê pode ser próxima e complementar.
Fazer cursos preparatórios e psicoprofiláticos ainda na gestação ou buscar orientação de profissionais capacitados pode ser muito útil, principalmente na fase inicial de adaptação com o bebê.
Não há como exercer a maternidade sem conviver com os filhos, porém, a segurança adquirida com dicas, sugestões, cursos ou informações, pode facilitar bastante essa integração com o bebê.
Se eu conseguisse responder à pergunta que sempre me fazem sobre como uma mãe pode se tornar perfeita, a resposta estaria relacionada a aprender a aceitar as suas próprias imperfeições e tentar integrá-las na relação com seus filhos.
Para ser boa mãe, não há necessidade de ser boa em excesso, mas sim atender de modo suficiente às necessidades do bebê. E as falhas também são indispensáveis ao desenvolvimento da criança, e precisam ser integradas, para que possa amadurecer de forma saudável e equilibrada.
Cynthia Boscovich
Psicóloga clínica, psicanalista. Além de atender adolescentes e adultos em seu consultório, possui um trabalho específico com grávidas, mães e bebês, na área de prevenção e tratamento.
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