No início do século 20 a atividade física durante a gestação era contra-indicada. Acreditava-se que a prática de exercícios poderia promover consequências adversas nas fases iniciais e finais da gestação e prejudicar o desenvolvimento do bebê. O período gestacional era visto como um estado de confinamento, no qual as mulheres eram desencorajadas a realizar qualquer tipo de atividade física.
A partir dos anos 80, diversos estudos clínicos e epidemiológicos demonstraram que o exercício físico, realizado com intensidade leve a moderada, não promove efeitos adversos no período gestacional e distúrbios fetais. Indicando que as recomendações anteriores eram excessivamente conservadoras.
Atualmente o foco dos estudos é outro, o meio científico se preocupa com as consequências do sedentarismo durante a gravidez. Ficar parada nesta fase pode ser sim um grande problema! Estudos recentes comprovam que a falta de atividade física na gestação pode causar perda de massa muscular e de condicionamento cardiovascular, ganho excessivo de peso, maior risco de desenvolver diabetes e hipertensão gestacional, problemas circulatórios, alta incidência de dores lombares e dispnéia (falta de ar ou fôlego curto), além de piores ajustes psicológicos às mudanças físicas provocadas pela gravidez.
Uma instituição reconhecida internacionalmente (Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Canadá) recomenda que todas as mulheres com gestação sem complicações, ativas ou sedentárias, sejam encorajadas a participar de atividades aeróbias e de força muscular como parte de um estilo de vida saudável.
Antes de iniciar um programa de exercícios é necessário a liberação médica. Existem contraindicações relativas e absolutas para a prática de atividades físicas durante a gestação, as quais devem ser avaliadas pelo ginecologista.
No caso de gravidez sem complicações recomenda-se praticar atividades aeróbias e de força muscular com intensidade leve a moderada, sem objetivos de atingir a máxima performance. Uma forma fácil de acompanhar a intensidade é através da percepção subjetiva do esforço, ou seja, a gestante deve sentir que a atividade realizada está moderadamente leve à um pouco difícil. Outra forma de perceber a intensidade do exercício é ser capaz de conversar durante o treinamento, caso contrário a intensidade deve ser diminuída.
De acordo com o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, durante a gestação são contra-indicadas atividades que aumentem risco de quedas e choques, assim como o mergulho autônomo (com cilindro de ar comprimido). Para a maioria das mulheres, exercícios que promovem grande impacto sobre as articulações (ex: squash, tênis e corrida) não são indicados ou devem ser prescritos com cautela. O treinamento para o desenvolvimento da flexibilidade (alongamento) deve ser realizado com moderação devido ao maior relaxamento dos ligamentos durante este período.
É verdade que novos estudos são necessários para se avaliar detalhadamente os efeitos de diversos tipos de exercícios, modalidades (yoga, pilates etc) e intensidades. No entanto, para grande parte das gestantes, os riscos com a prática de exercícios não são reais e os beneficios para a saúde são concretos. Estudos recentes demonstram que a prática de exercícios reduz em até 60% o risco de pré-eclâmpsia e em aproximadamente 50% o risco de diabetes gestacional, além de estar associada a menores índices de depressão pós-parto.
Para as mulheres que optaram pelo parto normal é importante informar que a prática de exercícios parece ter impacto positivo sobre a habilidade de empurrar o bebê durante o parto. Existem indícios de que exercícios específicos para a musculatura do assoalho pélvico (ou períneo, como é conhecido) previnem a incontinência urinária durante a gestação e após o parto.
A musculação e a ergometria (bicicleta estacionária, esteira, transport e step) se enquadram como boas opções de prática no período gestacional. As atividades são realizadas em ambiente controlado (sem risco de quedas ou choques) e os exercícios podem ser adaptados de forma a evitar grande impacto articular, sendo também possível controlar de maneira precisa a intensidade do treinamento. Além disso, existe a possibilidade de se buscar posturas e ângulos de movimentos adequados e confortáveis, evitando posições contra-indicadas como a supina (deitada de costas), que provoca relativa obstrução do retorno venoso e consequente diminuição do débito cardíaco.
Conhecendo os benefícios do exercício bem direcionado, não tem porque ficar parada. Ao engravidar não dê uma pausa no seu modo de vida ativo!