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Médicos divergem sobre a necessidade de usar sabonetes íntimos diariamente

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Sabonetes líquidos e lenços vaginais umedecidos têm invadido as prateleiras de farmácias e supermercados. Muitas mulheres já incorporaram esses produtos à higiene diária, mas nem todos os especialistas acreditam que eles sejam mesmo necessários.

Hábitos de higiene íntima, por incrível que pareça, nem sempre são ensinados de mãe para filha. Em geral, o máximo que as meninas escutam é que limpeza da vagina deve ser feita “de frente para trás”. É incomum que as mães expliquem como se deve lavar a vulva e provavelmente isso não acontece porque elas próprias não receberam as mesmas orientações de suas mães.
Há 30 anos ou mais, as mulheres usavam mais saias, depilavam-se menos, usavam mais tecidos naturais como o algodão e não passavam horas sentadas no carro durante o congestionamento ou no computador. A mudança destes hábitos modificou a defesa natural do corpo da mulher, segundo o ginecologista Eliano Pellini, chefe do Setor de Saúde e Medicina Sexual da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo. “Infelizmente é difícil para a mãe passar essa informação para a filha desvinculada da conotação sexual. Ela ainda tem receio de que a menina tenha interesse por essa área do corpo”, pondera.
Para o ginecologista Newton Sérgio de Carvalho, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), antes de escolher o que usar e qual a finalidade que o produto deve ter, outro tabu deve ser quebrado. Para ele, é fundamental que mulher se familiarize e conheça o próprio corpo. “É importante que a mulher saiba que corrimento nem sempre é doença, às vezes faz parte de um desequilíbrio momentâneo da flora vaginal”. Ele acrescenta que algumas mulheres têm a região mais úmida do que outras.
Corrimento: quando é normal?
Os corrimentos podem ser causados por fungos ou bactérias, mas as características que indicam que a umidade se transformou em doença são bem específicas. Alguns desses microorganismos já habitam a flora feminina normalmente, mas sua proliferação descontrolada pode causar excesso de secreção, cheiro forte, coceira e irritação. Qualquer desses sintomas pode indicar a necessidade de tratamento e o único profissional habilitado para isso é o médico.
Como ensina a ginecologista Heloisa de Medeiros, a vagina conta com células que estão em constante renovação. “A presença de glândulas, pêlos e a própria transpiração podem interferir no cheiro, na coloração e na quantidade do fluxo vaginal”, diz.
Os tipos mais comuns de doenças que provocam corrimentos são a candidíase, a tricomoníase e a vaginose bacteriana. A primeira é causada pelo fungo Candida albicans, que provoca muita coceira, secreção espessa e irritação local. Ele habita a flora vaginal e é preciso descobrir a causa do aumento repentino da população para tratar o problema.
Na tricomoníase, causada pelo protozoário Trichomonas vaginallis, a forma de contágio é a relação sexual e exige também o tratamento do parceiro pelo uso de quimioterápicos ou antibióticos. Outro distúrbio muito comum é a vaginose bacteriana, causada por uma bactéria anaeróbia (ou seja, que se reproduz sem precisar de oxigênio) e que causa um corrimento de cheiro muito desagradável em contato com o sangue ou o sêmen.

Nenhum desses distúrbios pode ser tratado com uso de sabonetes líquidos, mas a boa higienização auxilia no tratamento. “O sabonete comum pode fazer a mesma higienização e nem os que são feitos especificamente para a higiene íntima estão livres de causar algum tipo de alergia”, previne Medeiros.
Para Carvalho, o uso de sabonetes íntimos para tratamento ou prevenção de doenças não tem respaldo científico. “Como a região genital feminina é muito mais sensível aos alérgenos, o que se pretende é que os sabonetes utilizados sejam os mais neutros possíveis. Eu receito para muitas pacientes que usem sabonetes feitos para bebê, por exemplo”, comenta.
Já de acordo com Pellini, o uso de sabonetes líquidos feitos para a higiene íntima é recomendável diariamente. “Hoje sou extremamente a favor, porque uma mulher não usa sabonete intimo somente para higiene, mas também para se preparar para uma relação sexual. É algo que contribui para a auto-estima”, opina.
O consenso entre os especialistas é que a higiene seja feita somente na parte externa da genitália. Lavagens internas, como as tradicionais duchas vaginais, podem prejudicar a defesa natural do corpo.
Outra recomendação expressa dos médicos é não usar absorventes diariamente, a não ser durante o período menstrual. “Os protetores de calcinha só protegem a calcinha, mesmo”, ironiza Pellini.
Para manter a saúde da vagina é preciso deixar que a pele respire, lavar a região depois de evacuar e depois de ter relações sexuais, além de evitar o uso de desodorantes, cremes ou qualquer tipo de produto que possa causar alergia.
Outra dica é tomar cuidado com o uso de papéis higiênicos. Eles servem para absorver a urina e deve-se evitar esfregá-los na pele a fim de que não machuquem a região genital.
Hábitos como dormir sem calcinha e urinar depois do ato sexual também são extremamente importantes para a higiene íntima. E para saber se o corrimento é só lubrificação excessiva ou motivo de alerta, basta seguir esta lógica: se não provocar coceira, dor, ardência, cheiro ou algum outro incômodo, você não precisa se preocupar.

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