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O papel de cada um dos pais no desenvolvimento da criança

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Quando pensamos em um bebê, inevitavelmente imaginamos esse pequeno ser sob os cuidados da mãe. Ela o carregou no ventre por nove meses e, após seu nascimento, está tão identificada com ele a ponto de conseguir compreender, quase magicamente, tudo o que ele precisa. Ambos formam uma só unidade, é como se fossem “dois em um”.

Sem dúvida alguma, a mãe (ou quem a substitua na função materna) no início de vida do bebê, é a pessoa mais adequada para prestar os cuidados a ele, pois por meio de sua preocupação materna, tem condições de se adaptar e atender suficientemente bem às suas necessidades.

A criança necessita de um bom início de vida e de um ambiente seguro, para se desenvolver física e psiquicamente saudável. Conforme a criança vai crescendo, essa díade mãe-bebê, vai se modificando e a inclusão de outras pessoas nessa relação vai se tornando fundamental.

Então como fica a função paterna no desenvolvimento da criança? No início, para que a mãe possa prestar bem os cuidados ao bebê, o pai (ou quem o substitua na função paterna) se torna imprescindível, pois consiste em proporcionar segurança e tranquilidade à mãe de modo que ela se sinta segura e tranquila para atender as necessidades do bebê. Sendo assim, a presença do pai é fundamental para tornar o ambiente propício e confiável ao recém-nascido. Mas também deve desempenhar funções em seu dia a dia, como dar banho, por exemplo, ou quaisquer outras funções nos cuidados com bebê.

A medida em que o bebê vai crescendo, o pai vai se mostrando mais ativo e essencial em seu desenvolvimento, e o lugar que ocupa na vida da criança aumenta com a convivência se ele for constantemente presente, pois a percepção que ela passa a ter da figura paterna se torna cada vez maior. Sendo assim, o pai vai se mostrando outra pessoa diferente da mãe, com outra forma de agir, de pensar e na lida com a criança, tornando-se fundamental para o desenvolvimento e saúde emocional dela.

Mas é determinante que a convivência com o pai seja constante e regular, dentro da rotina da criança. E isso é válido para pais casados ou separados.

Assumir a retaguarda de uma família, não significa que o pai não possa conviver com o filho e dispensar-lhe alguns cuidados regulares e rotineiros, mesmo que o filho seja ainda recém-nascido.

Rotina e previsibilidade são fundamentais, e os pais devem proporcionar isso para que a crianças consigam se desenvolver de forma integral. Nestes termos, ser firme, constante, funcional e proporcionar limites para as crianças, são tão importantes quanto o amor e afeto em seu desenvolvimento, para que elas cresçam de forma equilibrada, pois do contrário, podem se desenvolver de maneira limitada, tornando-se psiquicamente incapazes para encarar as adversidades da vida. De maneira geral, a função paterna tem papel importante na manutenção desse status quo.

Observo muitos homens que se sentem desamparados e até deslocados no convívio com o filho. O que pode contribuir para isso é o fato da relação da mãe com a criança ser muito intensa – isso não quer dizer que essa relação seja saudável – pois algumas mães, devido a essa intensidade, acabam não promovendo a autonomia do filho, e em alguns casos, podem torná-los até dependentes delas. Nesse momento, a função do pai é ser a figura forte, capaz de promover essa independência e cuidar para que tudo transcorra bem, mas para alguns nem sempre isso é fácil. Acho importante deixar claro que a figura do pai é tão importante quanto a da mãe para o desenvolvimento da criança. Vale aqui esclarecer que a relação de dependência com a mãe só se faz fundamental quando a criança é ainda recém-nascida, por isso a presença do pai é fundamental.

Preciso esclarecer que, neste texto, falei de uma família clássica, composta de pai, mãe e filhos. Contudo considero importante pensarmos nas novas configurações familiares hoje existentes. Atualmente nos deparamos com famílias constituídas de diversas formas, como aquelas com crianças filhas de pais solteiros ou separados, de produções independentes ou famílias em que o homem assume os cuidados com os filhos enquanto a mulher arca com a responsabilidade financeira. Há ainda famílias de casais homossexuais (masculinos ou femininos), entre outras possibilidades.

Observo que essas novas configurações familiares, até mesmo as tradicionais, necessitam de orientação, pois o lugar da mãe ou do pai no cenário familiar muitas vezes se torna muito confuso para os filhos, e considero muito importante cuidar disso.

Os pais precisam ter clareza sobre o exato papel que ocupam na vida dos filhos – e cada um tem um papel fundamental – para que estes possam saber o que esperar dessa relação. Já me vi diante de inúmeros casos e relatos de famílias de pais separados e, inclusive, de casais homossexuais que desempenhavam funções idênticas na lida com os filhos, deixando uma lacuna a ser preenchida, devido à ausência da outra função. E isso, no futuro, poderá acarretar prejuízos emocionais para a criança.

Independentemente da configuração familiar, é preciso ter claro que a criança necessita de muitos cuidados. Por isso, cada vez mais defendo a ideia de que as orientações devem ser dadas até mesmo antes do bebê nascer, a fim de proporcionar um bom início de vida, o que sem dúvida favorecerá uma vida adulta emocionalmente saudável.


Cynthia Boscovich
Psicóloga clínica e perinatal.
Psicóloga do sono e especialista em transtornos de humor. Colaboradora do GRUDA (Programa de Transtornos afetivos do IPQ/ HC/FMUSP).
Email: cyboscovich@gmail.com
Tel: 55 11 99687-9087
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