Nos primeiros anos de vida, as experiências auditivas são fundamentais, no qual garante o desenvolvimento da audição e da linguagem oral, visto que a percepção e desenvolvimento da fala são obtidas por meio da audição, além do processo de desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. O desenvolvimento da linguagem depende do funcionamento dos processos auditivos, para receber e transmitir, perceber, relembrar os sons e integrar as experiências sonoras, o que permite a comunicação e interação social.
A detecção e a intervenção precoces em crianças com perda auditiva aumentam a probabilidade de otimizar o potencial de linguagem receptiva e expressiva de alfabetização (leitura e escrita), desempenho acadêmico e desenvolvimento emocional e social. Um sistema auditivo íntegro garante que as competências ligadas à comunicação humana evoluam de modo a satisfazer as necessidades de interação nos contextos, visto que tanto em crianças como em adultos a linguagem tem papel essencial para a comunicação.
Dentre as infecções mais comuns na infância, está a otite média, uma inflamação da cavidade da orelha média que ocorre por vários fatores. Em crianças, a otite média pode ser explicada pela imaturidade do sistema imunológico e também pela imaturidade estrutural e funcional da tuba auditiva (que conecta o ouvido médio ao interior do nariz, possibilitando a ventilação com o exterior. Ela está localizada do outro lado do tímpano). É considerada uma doença prevalente na infância, com maior pico de incidência entre seis e 24 meses de idade, e com segundo pico de incidência entre quatro e sete anos de idade.
Quando ocorre uma otite, a criança tem uma perda auditiva temporária. Sabendo que é através da exposição sonora que a criança desenvolve competências auditivas, de processamento e identificação dos sons da fala, a ocorrência de otites recorrentes irá fazer com que o sujeito não consiga apreender o estímulo auditivo durante esses momentos, dificultando a percepção da fala e consequentemente a sua aprendizagem, a entonação e as intenções comunicativas associadas.
Alguns comportamentos que podem ser observados em crianças com otite média podem sugerir uma privação auditiva: virar a cabeça em direção à fonte sonora, pedidos frequentes de repetição, intensidade vocal elevada ou reduzida, leitura labial, desatenção, isolamento e dificuldade no aprendizado. Estas manifestações podem passar despercebidas por pais e educadores, prejudicando o desenvolvimento da linguagem e rendimento escolar. A identificação da interferência da otite média, em suas diferentes manifestações, na aquisição e desenvolvimento de linguagem desde seus primeiros estágios é crucial. A instrumentalização dos pais para reconhecer e lidar com esta afecção, assim como para acompanhar a aquisição e desenvolvimento de linguagem, identificando possíveis consequências da otite média de forma precoce também se faz muito importante para o pleno desenvolvimento infantil.
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Dra. Laura Faustino Gonçalves
Doutoranda em Ciências da Reabilitação (USP). Fonoaudióloga e Mestre em Fonoaudiologia pela UFSC. Aprimoramento em Andamento em Fonoaudiologia aplicado ao Transtorno do Espectro Autista. Experiência em Motricidade Orofacial, Fala, Dificuldades Alimentares, Comunicação Alternativa e Linguagem. Cursos com ênfase em Transtorno Motor de Fala, Seletividade Alimentar e Comunicação Alternativa.
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