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Distúrbios de sono em crianças com transtorno do espectro autista

Tempo de Leitura: 4 minutos
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O processo de adormecer e a manutenção do sono fazem parte do conjunto de habilidades adquiridas durante o neurodesenvolvimento de uma criança, sendo parâmetro importante no desenvolvimento infantil. A maioria das crianças entre 12 e 36 meses de idade passam pelo menos metade dos seus dias dormindo.

Distúrbios de sono ocorrem em 20% a 30% das crianças em geral, sendo a queixa relacionada a quadro respiratório a mais comum, com roncos, respiração oral, babação e sono agitado. Nesta edição, abordarei sobre queixas relacionadas ao sono em uma população específica: crianças com transtorno do espectro autista (TEA). A prevalência de TEA, segundo o último levantamento americano, é de 1 a cada 36 crianças e a prevalência de queixas relacionadas ao sono nesta população chega a 86%.

O sono é um fator regulador importante de comportamento e emoções.Problemas de sono em crianças com TEA têm sido associados a uma série de desafios comportamentais, como agressividade, irritabilidade, desatenção, hiperatividade e comportamentos disruptivos. Dessa forma, é de fundamental importância investigar distúrbios de sono na população com TEA.

As queixas mais comuns relacionadas ao sono nas crianças com TEA, são dificuldade de iniciar o sono, tempo total de sono reduzido e despertares durante a noite.

Antes de imaginar que a causa da insônia é decorrente ao próprio TEA, é mandatório investigar causas orgânicas que possam desestabilizar o sono, como refluxo gastroesofágico e distúrbios respiratórios do sono. O ronco e apneia obstrutiva do sono podem fragmentar o sono e precipitar o despertar. Ainda é importante ressaltar que existem medicamentos de uso crônico que podem prejudicar no “desligamento” noturno, como os psicoestimulantes. As causas comportamentais são de fundamental relevância em todos os indivíduos, com ou sem TEA. Em bebês, com ou sem TEA, as questões comportamentais são as principais causas de dificuldade em adormecer e despertares recorrentes ao longo da noite.

Os fatores intrínsecos ao TEA são: (1) Disfunção no centro regulatório do ritmo circadiano, com interferência no encadeamento do sono a cada 24 horas; (2) Diminuição na produção, aumento na metabolização e alteração nos receptores de melatonina; (3) Imaturidade cerebral, alteração nas ondas cerebrais durante o sono e comorbidades psiquiátricas, como ansiedade e o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade; (4) Alterações sensoriais, com incômodo com roupa de cama ou mais sensíveis aos ruídos externos ou luminosidade.

Na vasta maioria dos casos, a causa da insônia nos pacientes com TEA é multifatorial, com questões comportamentais associadas às questões intrínsecas supracitadas. Dessa forma, em muitos casos, o manejo precisa abordar tanto as questões comportamentais como as questões intrínsecas ao TEA.

Se já não é simples e rápido modificar essas questões comportamentais em crianças sem TEA, a complexidade pode ser bem maior em crianças com TEA, por desregulação emocional, fixação nos eventos diurnos, dificuldade em entender pistas sociais relacionadas com o sono ou ansiedade como comorbidade. Mas desistir, jamais. A exposição à rotina muito bem estabelecida com pistas visuais, diminuição da exposição de luz à noite, principalmente vinda de eletrônicos, oferta de brincadeiras mais relaxantes na hora que antecede o adormecer, criar um ambiente escuro, silencioso, acolhedor para dormir são algumas das orientações comportamentais importantíssimas inclusive para as crianças com TEA. É fundamental lembrar que o uso de medicamento fica reservado para casos em que não houve sucesso com a intervenção comportamental inicial. Nenhuma intervenção comportamental isolada tem alta eficácia, então é importante aplicar várias estratégias em um mesmo paciente, a depender do quadro clínico relatado. Como mensagem final, deixo a minha consideração como mãe de uma criança neuroatípica: cuidar e melhorar o sono da criança com TEA reflete nas atividades de vida diária, no humor e nas respostas às terapias diurnas. Vale a pena individualizar e encontrar a melhor combinação de tratamento para atingir o sonho de uma noite tranquila de sono da criança e de seus cuidadores.

Dra. Sandra Dória Xavier
Otorrinolaringologista com Especialização em Medicina do Sono.
Pós Doutoranda pela UNIFESP. Professora e pesquisadora no Instituto do Sono SP
CRM-SP 101.577
@drasandradoriasono
ssandoria@yahoo.com.br
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