Para exemplificar, existe um incremento de aproximadamente 40% do volume circulante durante a gravidez, fazendo com que o rendimento cardíaco aumente em igual proporção. O médico acrescenta que, devido à ação angiogênica do estrógeno (de criação de novos vasos sanguíneos) e vasodilatadora da progesterona, a pressão arterial tende a cair. “Juntando-se a tais fatores, podemos citar a presença da placenta na circulação arterial e venosa que contribui para a redução dos níveis tensionais”, diz o especialista.
Segundo Mandel, o aumento do volume circulante ocorre mais pela parte líquida. “As células do sangue aumentam, porém em um percentual menor, levando a uma hemodiluição, ou seja, queda dos níveis de hemoglobina e aparecimento de sopro sistólico, considerado normal neste período”, afirma. Apesar da viscosidade sanguínea reduzida, a coagulação em gestante fica exacerbada, pois existe aumento nítido de, praticamente, todos os elementos da coagulação.
Para o especialista, todas as modificações citadas no aparelho cardiocirculatório visam a reserva sanguínea para o momento do parto, além da defesa contra hemorragias que podem ser catastróficas em partos sem assistência. “Devido a este aumento do volume de sangue circulante no organismo da gestante, e alterações da coagulação do sangue, é comum que problemas neurológicos ocorram nesse período. Muitas vezes, devido às alterações da circulação do sangue no cérebro, até problemas que estavam ‘escondidos’ podem vir à tona”, alerta o neurocirurgião.
Sistema neurológico durante a gestação
E dentre os problemas neurológicos que podem ocorrer nessa fase estão os acidentes vasculares (isquêmico, aquele que ocorre porque há um entupimento de um vaso sanguíneo, ou o hemorrágico, aquele que é caracterizado por um sangramento) e o aparecimento de cistos ou tumores cerebrais. Além disso, a gravidez e o período pós-parto estão associados com um risco aumentado de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e hemorragia intracerebral. Na verdade, as causas para um AVC nessa fase são muito específicas e podem estar associadas às situações de pré-eclâmpsia e eclampsia, embolia do líquido amniótico, angiopatia pós-parto e cardiomiopatia pós-parto.
Estudos já apontaram que o período de maior risco para o AVC é no terceiro trimestre e no pós-parto, semelhante ao prazo para o risco de eventos tromboembólicos venosos. Já dados de um estudo realizado no Baltimore, Washington e no Canada sugerem que o período de maior risco de acidente vascular cerebral é o pós-parto. No entanto, uma pesquisa detalhada sobre várias doenças do aparelho circulatório (incluindo acidente vascular cerebral isquêmico, acidente vascular cerebral hemorrágico e hemorragia subaracnoide) associado com gestação aponta que a maioria das ocorrências surge no período do parto, e a frequência diminuiu no período pós-parto. Também foi demonstrado em uma série de pacientes menor, que a frequência de acidente vascular cerebral diminuiu bastante sete dias ou mais após o parto. Portanto, o medo de um AVC não deve ser uma contraindicação para a gravidez, mas as mulheres precisam ser orientadas sobre os fatores de risco. Há ainda necessidade de ampliar pesquisas focadas em resultados relacionando gestação e AVC.
Atualmente, não há evidências que apontem que, durante a gravidez, haja um risco maior para o desenvolvimento e aparecimento de tumores ou cistos cerebrais. “Infelizmente, o que pode ocorrer nessa fase é de um tumor que poderia estar ‘quietinho’, poder ‘acordar’. Isso significa que podem começar a aparecer sintomas”, destaca o especialista.
E é justamente isso que precisa ser observado pelas mulheres em fase gestacional. A dor de cabeça, por exemplo, pode ser algo comum durante a gravidez. “No entanto, a dor de cabeça de início recente ou súbita, de forte intensidade, com características novas para a paciente, merece ser investigada”, alerta. Além disso, cefaleia associada aos outros sintomas como náuseas e vômitos e alterações de sensibilidade e força.
O neurocirurgião comenta que a paciente pode até sentir certa indisposição nesse período, com fraqueza generalizada. “No entanto, uma fraqueza localizada, em um braço ou em uma perna, nunca deve ser considerada normal. Alterações como zumbidos ou diminuição da audição também podem parecer sintomas ‘bobos’, mas devem ser vistos conjuntamente com um médico”, informa Mandel.
O especialista explica que, geralmente, os tumores cerebrais começam a apresentar sintomas quando crescem ao ponto de aumentarem a pressão na cabeça. “Por isso, os sintomas mais comuns são dor de cabeça, em especial, no período da manhã, atingindo toda a região craniana e associada a náuseas e vômitos”, detalha. Alguns tumores podem comprimir algum nervo e causarem sintomas mais localizados como diminuição da visão e da audição ou dificuldade para movimentação de língua, rosto. “Em casos mais avançados a diminuição de força em metade do corpo, acompanhado de perda do equilíbrio, também pode ocorrer”, completa.
Tudo começou com dores de cabeça
Uma paciente chamada Priscila Santos Matias, 31 anos, sempre sentiu dores de cabeça. Mas, como era fumante, a cefaleia era associada ao cigarro e ao consumo de café. Quando engravidou do segundo filho, dores de cabeça muito forte começaram a incomodá-la. Só que como era gestante não podia tomar remédios que aliviassem este sofrimento e, certo dia, parte do seu corpo começou a ficar dormente. Com isso, ela foi encaminhada ao médico e ao chegar ao consultório sua pressão arterial estava muito alta. Ela precisou fazer uma tomografia e o tumor cerebral foi identificado. “Estava grávida de seis meses e o tumor havia sangrado. Fiquei internada por vinte dias na UTI, sem me levantar da cama, com o lado esquerdo paralisado”, relembra. Nessa fase, os médicos diziam que ela ou sua filha não sobreviveriam e, foi nessa época, que Priscila conheceu o médico Mauricio Mandel. “Ele disse que havia uma saída. Com sete meses de gestação foi feito o parto e, logo em seguida, o tumor foi operado. A operação durou mais de 10 horas e foi um sucesso. Seu lado esquerdo que estava paralisado, voltou aos poucos ao normal. Após 6 meses de fisioterapia Priscila voltou a andar normalmente. Hoje, ela sente um pouco de tontura, mas consegue viver uma vida normal. “Mas vale o alerta. Meus primeiros sintomas foram dores de cabeça que, se tivessem sido investigadas logo no início, poderia ter diagnosticado o tumor. Portanto, não podemos considerar normal algo que incomoda”, finaliza.
Fonte-Médico Mauricio Mandel (CRM 116095), neurocirurgião formado pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN)
Depressão na gravidez
Eis as perguntas que são sempre feitas: Por que estão assim? Há motivos para isso? Em alguns casos, há, mas em outros, não. A tristeza