Mariana tem 31 anos e é mãe do primeiro filho, André, que está com 30 dias de vida. Desabafa com sua mãe dizendo: – “Não imaginava que um bebê pudesse chorar tanto como o André. Há 10 dias chora sem parar todas às tardes das 5 até às 8, sem motivo aparente. Além desse período, chora pelo menos outras duas ou três horas, inclusive na madrugada!” Não é só choro, ele também fica vermelho, se mexendo e resmungando. Às vezes piora quando dou de mamar”. Continua: – “Eu achava que estava preparada para ser mãe. Li muito a respeito antes e depois de engravidar. Estou ficando desesperada de ver que a teoria não está ocorrendo na prática. O pai quando chega do trabalho tenta ajudar, mas também não tem sucesso. Conversamos sobre o problema, mas estamos começando a nos desentender…”
Choro nos primeiros meses de vida faz parte do desenvolvimento neurocomportamental do lactente. Pode ser ocasionado por vários fatores como fome, necessidade de troca de fraldas, sono, calor, frio, ambiente agitado ou barulhento, excesso de pessoas realizando visitas. Aceita-se que a duração diária de choro, expresso pela somatória do tempo em que está presente, apresenta pico na sexta semana de vida (cerca de 2,8 horas/dia) e diminui para 1,0 hora em torno dos três meses de idade. Ocorre preferencialmente no final da tarde. Em 2006, um grupo de pediatras especializados em gastroenterologia pediátrica fez uma proposta para padronizar a definição da cólica do lactente, denominada critério de Roma III Assim, caracteriza-se cólica do lactente pela ocorrência diária de episódios inexplicados de choro, irritabilidade e/ou inquietação por mais de três horas por dia, em três dias da semana durante o período mínimo de uma semana. Os episódios começam e desaparecem sem um motivo óbvio. A criança ganha peso adequadamente. Evidentemente, o choro faz parte do quadro clínico de inúmeras doenças que podem ocorrer nesta faixa etária, razão pela qual, o médico deve ser consultado e realizar cuidadosa avaliação do paciente.
As causas das cólicas não estão plenamente esclarecidas. Discute-se a participação conjunta de vários fatores como ocorre em todos os distúrbios funcionais gastrintestinais. Assim, considera-se a interação da imaturidade do sistema nervoso central, status biopsicossocial da família, imaturidade na fisiologia intestinal e alteração na colonização do intestino, ou seja, na microbiota intestinal.
O que fazer quando o bebê está com cólica? Ninguém melhor do que pediatra para oferecer as orientações necessárias. Alguns princípios básicos devem ser considerados: 1. os pais devem receber orientação, apoio e serem tranquilizados pelo médico que precisa ter disponibilidade para auxiliar e proporcionar maior segurança; 2. nunca realizar ações que possam ser causadoras de lesões na criança, como sacudir ou qualquer procedimento que constitua agressão ou risco para o lactente; 3. não mudar a alimentação, principalmente, interrupção do aleitamento natural exclusivo. Seguir sempre a orientação do Pediatra.
Além disso pode-se tentar: 1. pegar o bebê no colo ou colocar em contato direto a barriga do bebê com a barriga da mãe; 2. enrolar o bebê em uma manta ou cobertor; 3. flexionar as coxas do bebê sobre a barriga; 4. banho ou compressas mornas na barriga; 5. a mãe, quando necessário, deve pedir auxílio para as tarefas do lar e no cuidado com o bebê, além de dormir o máximo possível; 6. reduzir estímulos para o bebê: evitar locais com muito barulho ou excesso de pessoas; 7. procurar um ambiente tranquilo com uma música ambiente suave; 8. estabelecer uma rotina para banho, sono, passeio e outras atividades
Por outro lado, com frequência são usados remédios para reduzir gases o que não tem eficácia comprovada. Outras vezes, considera-se que a doença do refluxo gastroesofágico possa ser a causa de choro no lactente, no entanto, observa-se em vários países do mundo o uso injustificado de medicamentos que podem ocasionar eventos adversos. Existem, também, várias outras propostas que não têm padronização ou eficácia comprovada (por exemplo, treinamento da família com vídeos para educação e redução do estresse dos pais, carregar continuamente o lactente, entre outros).
Considerando a existência de um padrão diferente na formação da microbiota intestinal de lactentes com cólicas, nos últimos anos vem sendo desenvolvidas pesquisas para avaliar a eficácia de probióticos na prevenção e tratamento da cólica do lactente. Sucesso vem sendo conseguido com um probiótico específico denominado Lactobacillus reuteri DSM 17938. É importante destacar, que os efeitos clínicos positivos obtidos com um determinado probiótico não podem ser extrapolados para outros. Estudos realizados na Itália, Polônia e Canadá mostraram que o Lactobacillus reuteri DSM 17938 reduz, com significância estatística, a duração do choro de lactentes com cólica. Um estudo recente na Itália mostrou que a administração prévia deste probiótico pode reduzir a duração de choro ao longo dos primeiros meses de vida.
Espero que as informações desta matéria sejam de utilidade para as famílias que estão recebendo novos bebês. Seria muito confortante que a fictícia Mariana mencionada no início desta matéria pudesse falar para a avó do André: “Mãe que bom ter recebido orientações do Pediatra para o controle da cólica. Agora o André é outro bebê. Tudo melhorou. Vou ter mais tempo para planejar melhor minha volta ao trabalho, afinal ser mãe é excelente, mas sempre há um novo desafio… Mas nossos bebês merecem o melhor…”
Fonte: Dr. Mauro Batista de Morais
Professor associado, livre-docente da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica e Chefe do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo
Coordenador do Programa de Pós-graduação em Nutrição (Mestrado e Doutorado) da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo
Gastroenterologista Pediátrico da Clínica de Especialidades Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein