No caso dos embriões, os problemas podem surgir devido às eventuais alterações cromossômicas que impedem a implantação, mesmo quando eles têm um aspecto próximo à perfeição no dia da transferência. “Isso não significa que tal problema irá se repetir em todos os tratamentos, mas é fundamental considerar que pode ter ocorrido uma seleção natural do organismo materno, que impediu a implantação do embrião não saudável”, explica Ueno. Sempre que há essa suspeita, o casal deve realizar o exame do cariótipo (um tipo de exame de sangue), que identifica anormalidades cromossômicas que estão ‘dormentes’ em cada um deles, e que ao serem transmitidas ao embrião podem causar doenças que impossibilitam o desenvolvimento do bebê.
Também é importante realizar uma avaliação da cavidade uterina antes dos programas de fertilização in vitro, pois isso vai ajudar a afastar alterações como pólipos, miomas ou aderências que podem impedir a implantação dos embriões. “A hidrossalpinge, que ocorre em consequência de um processo inflamatório que dilata as trompas e provoca a formação de conteúdo líquido no seu interior, prejudica o útero dificultando a implantação dos embriões e aumentando a incidência de abortos”, alerta Ueno. Além disso, a dificuldade na transferência dos embriões pode causar traumas no endométrio e atrapalhar a implantação do embrião. Para cada diagnóstico, existem tratamentos específicos com antibióticos, antiinflamatórios e eventualmente corticoides. A vídeo-histeroscopia com a dilatação do colo ou a dilatação do colo uterino isolada também beneficia um nova tentativa que, preferencialmente, deverá ser realizada com sedação. “A transferência embrionária sob a visão do ultrassom é positiva, pois permite ao médico observar o trajeto do cateter em direção à cavidade uterina”, diz o médico.
Vale ressaltar que a endometriose pode atrapalhar o resultado de gravidez mesmo nos programas de fertilização in vitro. E a doença causa infertilidade por uma série de efeitos, entre eles, porque influência os hormônios no processo de ovulação e na implantação do embrião; altera a prolactina e as prostaglandinas, que agem negativamente na fertilidade; causa alterações imunológicas; interfere na receptividade endometrial que, devido ao problema, sofre a ação de substâncias que atrapalham a implantação do embrião; e interfere no desenvolvimento embrionário podendo elevar a taxa de aborto.
Por fim, estão os problemas imunológicos que podem causar insucesso na fertilização in vitro e abortos de repetição. “Alguns autores acreditam que muitos casos de falha são, na verdade, abortos muito precoces que, após um período curto de implantação embrionária, não chegam a ser detectados nos testes de gravidez, não evoluem e são eliminados”, comenta Ueno. Porém, os resultados positivos após a terapia com vacinas costuma encorajar os casais para esse tipo de tratamento, mas a sua utilização é polêmica.
Fonte- Joji Ueno é doutor em ginecologia pela Faculdade de Medicina da USP e Diretor da Clínica Gera (Clínica de Reprodução Humana) e responsável pelo setor de Histeroscopia ambulatorial do Hospital Sírio-Libanês