Cresce uma nova realidade no Brasil: pais que criam os filhos sozinhos. “Alguns são viúvos, outros foram abandonados juntamente com os filhos pela mulher, alguns tornaram-se pais sem que houvesse uma relação estável”, afirma a hebeatra Mônica Mulatinho, da Cia do Adolescente & Família, em Brasília. Razões à parte, o fato é que a guarda dos filhos, que no passado era quase que exclusiva das mães, hoje é concedida aos pais até mesmo em comum acordo.
De acordo com o IBGE, mais de 3.400 pais possuem a guarda no Brasil. A quantidade de crianças que moram em casas comandadas por um homem triplicou nas últimas duas décadas e o índice de pais que reivindicam a guarda dos filhos subiu de 5% para 25% nos últimos cinco anos.
“Diante dessa nova realidade, o principal é compreender que uma criança pode crescer muito saudável em tal circunstância”, explica a médica em contraponto à idéia longamente estabelecida de que filhos de casamentos desfeitos apresentam maiores dificuldades em diferentes aspectos existenciais. “Vemos pais exercendo o papel de cuidadores com maestria. Estão presentes e atentos às necessidades da criança, que retribui de maneira muito positiva”, declara.
Na prática, as demandas que os pais levam à consulta com o hebeatra são as mesmas e as orientações recebidas também. “Se existe uma receita para o sucesso na criação dos filhos, ela consiste na conjugação de limites, afetividade e atenção e isso serve para qualquer adulto que exerça assuma a responsabilidade integral por um menor”, complementa.
Para ilustrar esse novo pai, que deixa para trás o papel de provedor material para estar ao lado da mãe em uma guarda compartilhada ou assumi-la na integridade, a médica cita Lya Luft, em Pensar é Transgredir: “Não tire nosso bebê dos meus braços dizendo que homem não tem jeito pra isso, ou que não sei segurar a cabecinha dele, mas me ensine docemente se eu não souber”.