É necessário compreender os conceitos de autonomia e independência, para identificar se vocês pais têm estimulado no cotidiano do seu filho ambas as valências ou somente a independência, o que é muito comum no cotidiano das famílias.
A independência refere-se à habilidade da pessoa em desempenhar uma tarefa sem receber nenhuma assistência, como vestir-se, usar o vaso sanitário, organizar a mochila da escola, tomar banho, preparar uma refeição, se locomover na comunidade, entre outras.
Já a autonomia se refere à capacidade de uma pessoa tomar suas próprias decisões e agir de acordo com suas próprias vontades, necessidades, valores e interesses, exemplo: escolher o que quer almoçar, guardar os brinquedos, gerenciar seu tempo, qual roupa gostaria de usar e ajudar a limpar o quarto.
Uma pessoa pode ter autonomia e não ter independência, como é o caso de pessoas com uma deficiência ou limitação motora, que necessita de ajuda para vestir-se, mas conforme suas habilidades cognitivas, ela pode ter a autonomia de escolher qual roupa gostaria de usar ou o que gostaria de comer.
O cenário mais comum entre as famílias, que nós terapeutas encontramos na prática clínica é o paciente que desenvolve habilidades para ter independência, mas não tem autonomia, ou seja, possui habilidades necessárias para desempenhar uma tarefa, mas devido a rotina corrida, falta de informação, experiência dos pais ou de tempo, os cuidadores acabam executando a tarefa por ser mais rápido.
Precisamos então encontrar um equilíbrio na rotina corrida, entre fazer tudo pelas crianças e deixá-las fazer todas as tarefas sozinha, é válido ressaltar que as crianças vão precisar de um nível de assistência, conforme forem adquirindo habilidades: cognitivas, motoras, sensoriais, sociais e de comunicação, o adulto reduz esse nível de assistência.
Mas para adquirir as habilidades necessárias, por exemplo para vestir-se, a criança precisa experienciar, criar hipóteses de em qual buraco da blusa ela precisa pôr a cabeça, em quais precisam colocar os braços, qual peça de roupa ela coloca nos membros superiores e quais nos inferiores.
Minha orientação é que cada família selecione momentos da rotina para estimular a criança, por exemplo se durante a manhã é corrido para ensinar a escovar os dentes sozinho, escolha dar menos assistência na escovação noturna. Assim, também pode ser feito com as demais tarefas da rotina, o importante é sempre que possível deixar a criança tentar fazer.
Vocês pais podem graduar o nível de assistência dada nas tarefas, começar observado como a criança desempenha, façam perguntas a ela, ao invés de dar a resposta, exemplo: você já conseguiu escovar os dentes, o que mais falta fazer: as respostas esperadas seriam “escovar a língua” ou “enxaguar a boca”, assim você auxilia a criança a ir criando hipóteses do que ela precisa fazer.
Se ela ainda necessitar de ajuda, faça em você mesmo para que ele imite, caso a criança ainda não consiga, coloque a sua mão sobre a dela e realize junto, ensinando-a por exemplo um movimento que precisa ser executado, com a escova de dentes.
Ao conceder autonomia aos filhos, vocês permitem que eles desenvolvam habilidades essenciais para a vida cotidiana. Ao encorajá-los a tomar decisões por si mesmos, como administrar o tempo, lidar com o dinheiro, guardar os brinquedos, conseguir ir ao mercado e fazer uma compra, resolver problemas, os pais capacitam seus filhos a se tornarem mais independentes e preparados para enfrentar situações futuras que inevitavelmente surgirão em suas vidas.
Além disso, ao promover a autonomia, os pais estão incentivando o desenvolvimento da autoconfiança e da autoestima em seus filhos. Quando as crianças percebem que são capazes de tomar decisões e lidar com as consequências, elas se sentem mais seguras e confiantes em suas próprias habilidades. Essa confiança é fundamental para que eles se tornem adultos resilientes, capazes de enfrentar desafios da vida diária.