No trabalho que desenvolvo com mães e bebês, atendendo não só mães biológicas, mas em muitos casos, também mães adotivas, observo a importância do acompanhamento psicológico de mães ou casais, nos casos daqueles que optaram por adotar uma criança. Com frequência, observo que os casais já vêm com uma experiência de gestações frustradas, muitas delas decorrentes de longos tratamentos de infertilidade, malsucedidos – e a adoção acaba por se tornar a última alternativa.
A decisão de adotar uma criança pode ter diversas causas. As famílias, principalmente as mães, precisam ter muita clareza, sobre o os motivos pelos quais chegaram a tomar a decisão, sobre o que ela significa, sem contar as expectativas e a ansiedade envolvidas em todo esse processo. Quando alguém decide ter um filho biológico, sabe que a espera pode ser longa para conseguir engravidar, mas quando consegue, terá o tempo da gestação – mesmo que esta tenha complicações –, a fim de se programar para a chegada do bebê. E sabe também que, quando o bebê nascer, será um recém-nascido. Tudo isso é incerto na adoção: a espera pode ser longa e a chegada da criança talvez aconteça de um momento para outro. Trata-se de uma gestação que começa sem data prevista para o parto e, em muitos casos, os pais adotivos não sabem se receberão um bebê ou uma criança maior, e tal expectativa em geral pode ser muito angustiante e causar estresse.
Os casais devem tentar manter a serenidade para a chegada do filho adotivo. Entretanto, assim como nas gestações em que devem se preparar para a chegada do bebê, os pais adotivos também precisam adequar o ambiente para a criança, receber orientações sobre como lidar com ela, levando em conta sua idade e se preparar internamente para sua chegada. Ser mãe ou pai requer tempo, empenho, dedicação e, acima de tudo, amor. E, com os filhos adotivos, como a espera não tem prazo para terminar, muitas vezes são pegos de surpresa e nem sempre estão devidamente preparados.
Também destaco a importância da participação dos pais que desejam adotar uma criança em um processo psicoterapêutico individual ou em grupos de apoio, que favoreçam a troca de experiências e opiniões entre pessoas que se encontram na mesma situação.
A adoção inclui aspectos jurídicos, sociais e afetivos que a diferenciam da filiação biológica e, apesar de ser muito desejada por grande número de pais, destaca-se ainda por enormes dificuldades e numerosos preconceitos que podem vir a ser elementos complicadores para os aspectos emocionais tanto para a família como um todo, como para seus membros individualmente. Cada um inevitavelmente entrará em contato com seus aspectos pessoais, limitações e condições a respeito de si mesmo e dos outros. Isso acontece até mesmo com a chegada de um filho biológico, pois a maternidade e a paternidade mobilizam questões profundas que podem ser positivas ou negativas. Na adoção, essas questões, que nem sempre são conscientes, tornam-se mais complexas. Talvez nesse momento, um acompanhamento psicológico individual se faça necessário.
Como tudo na vida tem aspectos bons ou ruins, a adoção, assim como a escolha de ter um filho, inclui as alegrias e as agruras da maternidade ou paternidade, que variam de mãe para mãe, de pai para pai, de sociedade para sociedade.
Não há necessidade de que ninguém seja perfeito, mas simplesmente reconheça que, para ser feliz, antes de mais nada, precisa aceitar que a vida também tem dificuldades, limitações e imperfeições. Saber que na adoção isso também acontece pode trazer um grande alívio.
Cynthia Boscovich
Psicóloga clínica, psicanalista. Além de atender adolescentes e adultos em seu consultório, possui um trabalho específico com grávidas, mães e bebês, na área de prevenção e tratamento.
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