Como evitar que as dificuldades naturais desta etapa influenciem negativamente a vida da futura família que se inaugura?
Parece haver um consenso, pelo menos por parte daqueles que já passaram pela experiência, de que a chegada do primeiro filho mobiliza muito mais do que a dos outros que vêm a seguir. Trata-se de uma mudança de status radical na vida do casal. Eles dão um salto para uma nova etapa do seu desenvolvimento e avançam uma geração.
Inaugura-se um nova família: Homem e mulher têm novos papéis a desempenhar e novas responsabilidades a assumir como pai e mãe. Deixam de ser cuidados pela geração mais velha, para serem cuidadores de uma geração mais jovem.
No entanto, não é somente a vida do casal que passa por transformações. Toda a família de origem também acompanha este processo. Há uma grande movimentação no campo emocional e todos mudam de status. Cada qual tem um novo papel a exercer. Quem não era, agora passa a ser avô, avó, tio, tia, etc…
Neste meio tempo, surge a necessidade do casal se organizar para encarar as demandas da nova etapa.
Ouvimos normalmente as pessoas falarem sobre chá de bebê, quarto, berço e tantas outras providências práticas. No entanto, raramente ouvimos sobre as tarefas familiares que o casal tem a cumprir para ultrapassar esta etapa com sucesso e que são fundamentais para estruturar as bases do relacionamento da nova família, permitindo um desenvolvimento sadio aos seus membros. Vamos a elas:
• para a chegada da criança o casal precisará abrir espaço tanto físico, na casa onde mora, quanto emocional, no seu relacionamento, que antes era a dois. Isto significa que homem e mulher deverão cuidar de equilibrar, dentro do possível, seus papéis como pai e mãe, marido e mulher, companheiros, amigos, parentes, etc. Mas ainda deverão cuidar muito bem das fronteiras da nova família: como são principiantes, todos se sentem no direito de invadir e dar palpites. O retorno a casa, depois do nascimento do bebê, é delicado. No período em que deveriam ter mais sossego é que recebem o maior número de visitas, com mil conselhos e opiniões de como devem fazer isto ou aquilo. Durante estas visitas, muitas vezes pais e bebê ficam estressados, mas quem acaba expressando esse incômodo é o bebê, através do seu choro desenfreado. É até surpreendente quando, depois da saída da última visita e com a volta ao clima de tranqüilidade da casa, ele milagrosamente pára de chorar.
• não existe manual que ensine como ser pai e como ser mãe. Cada um dos pais viverá, ao seu tempo e ao seu modo, a oportunidade ímpar de desenvolver este aprendizado através da construção da relação com o próprio filho. Deverão aprender a colocar limites e a exercer a autoridade necessária. O casal deverá tomar cuidado para não criticar um ao outro, ou mesmo influenciar na construção da relação que, no caso de pai/filho e mãe/filho, é tão somente a dois; deverá abrir espaço e tempo para intimidade entre as díades pai/filho, mãe/filho, homem/mulher, e também para o grupo pai, mãe e filho como família. Cada um dos membros aprenderá sobre esta noção de fronteiras das relações e aprenderá a respeitar seus limites. É como se fosse uma dança que flui, individual, a dois, a três, e até em ciranda de grupo, quando estão com as famílias de origem.
• tanto o homem quanto a mulher trazem de suas famílias de origem um modelo de educação que envolve hábitos, comportamentos, atitudes, cultura, etc. Podemos dizer que este modelo que cada um traz consigo forma uma bagagem de vida, que a todo e qualquer momento deve ser revista conjuntamente, pois são muito diferentes uma da outra. Quando os dois conseguem perceber e aproveitar o que há de melhor em cada uma das duas bagagens para formarem uma terceira, passam a não ter mais necessidade de disputar sobre qual é aquela que educa melhor, se a do homem ou a da mulher. E aí sim, os dois estarão construindo o modelo da sua nova família, para através da sua cumplicidade, dar o melhor e mais precioso presente para seu filho: uma referência única para que ele se sinta seguro e siga o caminho do seu desenvolvimento de maneira saudável.
Apresentamos, a seguir, as tarefas das famílias de origem. Por que não? Se elas também são influenciadas com a chegada do bebê, nada mais justo do que cumpram algumas tarefas, muito simples de se descrever, porém muito difíceis, sob o ponto de vista de cada um dos envolvidos, de se executar. Vamos a elas:
• cabe aos avós passarem para uma posição secundária, de maneira a permitir que seus filhos, agora pais, exercitem a principal autoridade paterna e materna, ou seja, respeitar as fronteiras do casal, na qualidade de pais, e da nova família.
• cabe aos avós, irmãos, tios e primos dos novos pais estabelecerem uma relação carinhosa com a criança, fazendo parte deste período de transição em que a intimidade é permitida, porém, sem a carga de responsabilidade que a paternidade/maternidade requerem.
Portanto, é fundamental que o casal se organize e se adapte às novas circunstâncias desta etapa, para atingir o equilíbrio necessário ao desenvolvimento saudável da nova família. Se surgirem dificuldades, há que se buscar a orientação e os serviços de um profissional especializado.
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