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CAUSAS DE CHORO NO BEBÊ

Tempo de Leitura: 6 minutos
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O que se espera do recém-nascido logo após o nascimento? Que o bebê apresente choro forte indicando sua plena vitalidade. Neste momento, o ar percorre as vias aéreas em direção ao pulmão e a vida continua em um ambiente totalmente diferente. Sabe-se que a duração diária do choro varia com a idade. Aumenta no primeiro mês de vida e atinge o máximo de 3 horas diárias por volta da sexta semana. Diminui progressivamente até cerca de uma hora por dia aos quatro meses.

            O choro faz parte do desenvolvimento neurológico e comportamental do lactente. Pode ser entendido como uma forma de comunicação para expressar suas necessidades físicas e emocionais. Em geral, o choro pode acontecer por várias razões entre as quais fome, frio, calor, necessidade de troca de fralda e sono. Nestas circunstâncias, quando o desencadeador do choro é solucionado, o bebê para de chorar. Por exemplo, se é fome o choro cessa com a amamentação; se é frio, pelo aquecimento e, assim por diante. Entretanto, o choro pode ser devido a outras causas diferentes das mencionadas acima. Assim, o choro inconsolável, em geral acompanhado de irritabilidade e outras manifestações clínicas pode ser sinal de uma série de doenças (Quadro 1). Como pode ser observado, o choro pode indicar uma doença grave. Por este motivo, é sempre muito importante consultar o Pediatra frente a uma situação com choro inexplicado. A partir do conjunto de manifestações clínicas e das informações obtidas no exame clínico o Pediatra define qual o melhor procedimento diagnóstico e terapêutico. Deve ser lembrado que nem todas as manifestações clínicas das doenças que aparecem em outras faixas etárias estão presentes nos primeiros meses de vida. Se nas crianças maiores e adultos as manifestações típicas da meningite são febre, cefaléia e vômitos (além dos sinais observados no exame físico), nos primeiros meses de vida nem todos estão presentes e o choro pode ser uma das manifestações. Situação semelhante pode ser observada na infecção urinária. No caso destas infecções o médico definirá os exames necessários e o tipo e a forma de administração de antibióticos. Quando se trata de um problema cirúrgico ou traumático, adota-se a conduta apropriada à situação clínica. Fissura anal é reconhecida no exame físico.

            Por sua vez, a alergia à proteína do leite de vaca, a doença do refluxo gastroesofágico e a cólica do lactente têm vários aspectos em comum. Muitas vezes, esta situação representa um verdadeiro desafio para o médico definir o melhor caminho a ser seguido. No caso da doença do refluxo gastroesofágico, atribui-se a irritabilidade e o choro à dor provocada pela inflamação do esôfago, pelo ácido do estomago, que pode estar ou não associada com regurgitações e vômitos. Em muitos países do mundo tem sido observado o uso excessivo, prolongado, inefetivo e desnecessário de medicamentos que diminuem a produção de ácido pelo estomago. A alergia à proteína do leite de vaca também pode se acompanhar de choro por cólicas. Outros sintomas podem estar presentes como vômitos, diarréia, sangue nas fezes e lesões de pele (dermatite atópica ou urticária). Neste caso, o tratamento é feito pela exclusão das proteínas do leite de vaca da alimentação do bebê ou de sua mãe quando em aleitamento natural exclusivo ou complementado. Os sintomas devem desaparecer na vigência da dieta de exclusão. Quando o lactente já não recebe mais o leite de sua mãe, devem ser prescritas fórmulas especiais com proteínas extensamente hidrolisadas ou na forma de aminoácidos (unidades constituintes das proteínas).        

            Bem mais comum que a doença do refluxo gastroesofágico e a alergia à proteína do leite de vaca é a cólica do lactente. A etiologia da cólica do lactente não está plenamente esclarecida. Supõe-se que ocorra a interação de vários fatores desde o status biopsicossocial da família e do ambiente doméstico até aspectos biológicos do intestino. Dentre estes incluem-se a imaturidade do sistema nervoso entérico, intolerância parcial à lactose, anormalidades em hormônios gastrintestinais, alteração na motilidade do tubo digestivo e na colonização intestinal (formação da microbiota). Deve ser destacado que a microbiota intestinal pode provocar alterações na motilidade digestiva e na produção de gases e, assim, participar da gênese da cólica do lactente. Neste contexto, nos últimos anos, probióticos (microorganismos vivos que podem proporcionar efeitos benéficos) estão sendo testados no tratamento da cólica do lactente. Vários estudos clínicos mostraram resultados positivos para um determinado probiótico, o Lactobacillus reuteri DSM17938. Os resultados observados com um probiótico não podem ser extrapolados para outros, ou seja, são específicos. Assim, o Lactobacillus reuteri DSM17938 pode fazer parte do tratamento da cólica do lactente que deve incluir outros cuidados para reduzir o impacto negativo do choro na qualidade de vida do lactente e de sua família, entre as quais:

1. pegar o bebê no colo (pode ser tentado o contato direto da barriga do bebê com a barriga da mãe);

2. banho morno ou compressas na barriga podem auxiliar na redução da cólica/choro do lactente;

3. reduzir estímulos para o bebê: evitar locais com muito barulho ou excesso de pessoas. Procurar um ambiente tranqüilo.

4. Estabelecer uma rotina para banho, sono, passeio e outras atividades;

5. não interromper a amamentação exclusiva na mãe. Sabe-se que bebês que não são alimentados com leite materno apresentam maior chance de cólica do lactente. Não utilizar chás, trocar marcas de leite ou usar medicamentos sem a orientação do Pediatra.

6. atitudes físicas como chacoalhar, entre outras, são proibidas em função dos riscos e graves conseqüências que podem causar ao bebê. 

            Para finalizar, vale a pena lembrar a definição de cólica do lactente. O diagnóstico de cólica do lactente deve ser estabelecido quando se observam todas as seguintes manifestações até os quatro meses de vida: 1. crises paroxísticas de irritabilidade, agitação e choro intenso que começam e param sem uma causa aparente; 2. as crises devem durar três ou mais horas diárias em pelo menos três dias da semana por pelo menos uma semana;   4.  lactente deve apresentar ganho de peso satisfatório.             Em conclusão, apesar do choro fazer parte do desenvolvimento do lactente, pode ter várias causas, inclusive doenças graves. No entanto, a causa mais freqüente de choro excessivo e inconsolável nos primeiros meses de vida é a cólica do lactente.

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