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Não existe criança preguiçosa

Tempo de Leitura: 5 minutos
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O movimento é uma mudança de lugar, posição e postura. Nos animais ele norteia as ações de sobrevivência. No ser humano, ele é controlado pelo sistema nervoso, envolve as relações do corpo com o cérebro, as diversas funções advindas, como as posturais, e as habilidades motoras e tem íntima relação com a cognição. Além disso, é considerado uma forma de comunicação capaz de expressar ideias e sentimentos através de movimentos e sons: choro, riso, dor, grito, ruído, respiração, até mesmo o silêncio. Especialistas em movimento afirmam que, para bebês e crianças, o movimento é uma forma de comunicação considerada uma expressão das necessidades.

Bem, começamos a mover nosso tronco com apenas 8 semanas de gestação e nossos membros com 9 semanas. Alguns autores citam o primeiro movimento com 7 semanas; independentemente de ser na sétima ou oitava semana, nessa idade, o bebê pesa menos de 1 grama e possui menos de 1 centímetro de comprimento. O preparo do nosso corpo para as nossas funções começa bem cedo. No caso das crianças, à medida que crescem, precisam mover mais e com mais habilidade para estarem aptas a realizar todas as funções que as esperam ao longo da vida: alimentação, higiene, locomoção, diversão, esportes, parto, e tantas outras.

Às vezes nos deparamos com situações em que por algum motivo uma criança move-se pouco, ou abaixo do esperado para a faixa etária; é comum ouvirmos que o bebê ou a criança tem preguiça, ou está cansada até mesmo para brincar. É fundamental deixar claro que essa frase NÃO procede, principalmente quando falamos de bebês e crianças pequenas. Geralmente esses “sinais de preguiça” estão acompanhados de baixa movimentação e associados a alguma condição clínica, ou motora, ou ambas. Recomendo fortemente que em primeiro lugar, visitem o pediatra para que ele verifique os exames laboratoriais e as possíveis condições que estejam interferindo na aquisição de habilidades.

Em segundo lugar, recomendo uma consulta com o fisioterapeuta pediátrico. Provavelmente essa baixa movimentação tem relação com o tônus muscular, que é o estado do músculo em repouso. Quando em seu estado normal, o tônus permite o desenvolvimento global de forma plena, e sem restrições; a criança consegue realizar os movimentos esperados para a faixa etária e os realiza com qualidade.

Quando o tônus se apresenta baixo, chamamos essa condição de hipotonia. Nessa circunstância, a criança apresenta uma baixa movimentação como resultado de baixa ativação muscular que pode ser especificamente de um grupo muscular, como no tronco, ou no corpo inteiro. A hipotonia está associada à diversos diagnósticos e condições que interferem e geram atraso no desenvolvimento motor global da criança, as mais comuns são: transtorno do espectro autismo (TEA), paralisia cerebral (PC), mielomeningocele, hidrocefalia, síndrome de Down (T21), síndromes genéticas raras.  

Quais dificuldades a hipotonia pode trazer para o bebê?  Podemos citar que por ele sermolinho, tem dificuldades em sustentar a cabeça, geralmente deixa a boca aberta e apresenta atraso de desenvolvimento em relação às demais aquisições motoras: sentar-se, engatinhar e andar, pois todas essas posturas possuem relação direta com o controle de tronco e cabeça. Dependendo da hipotonia, do histórico de nascimento do bebê, e da presença de fatores de risco ao desenvolvimento, as condições respiratórias também podem ser afetadas, considerando que o tórax tem papel fundamental na função respiratória, e a baixa ativação desse tônus pode favorecer quadros de infecção respiratória por repetição.

Quais as características da hipotonia na criança maior? Possui movimentos amplos, alteração de equilíbrio por conta da baixa ativação do tronco, pouca estabilidade postural, base de apoio alargada ao andar (pernas mais abertas), dificuldades em subir degraus, frequentemente senta em W, dificuldades com linguagem e comunicação, e ainda, dificuldades em manter os lábios fechados. Consequentemente, dificuldades com a coordenação motora fina, que é a capacidade de utilização das mãos para realizar diversas funções: agarrar, manusear, soltar, apertar, puxar, manipular e tantas mais.

“Quais sinais de hipotonia a criança dá no dia a dia”? Quedas, tropeços frequentes, alterações posturais, recusar fazer atividades.

“Detectei hipotonia em meu filho, posso estimular em casa”? Pode, mas por conta do comprometimento do tronco, é imprescindível uma avaliação com um fisioterapeuta pediátrico. Papais e mamães, ao observarem hipotonia, não hesitem: busquem ajuda profissional. Tenho certeza de que esse suporte é o caminho trará mais tranquilidade a vocês e mais segurança ao desenvolvimento dos pequenos.

Dra. Taciane Melo
Fisioterapeuta neuropediátrica, especializada em desenvolvimento de bebês,
Instrutora de Shantala,
Mestre em Saúde Pública pela Fiocruz, Membro da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN), Membro da La cause Des Bébés, associação francesa transdisciplinar de estudos e pesquisas sobre bebês, unidade Brasil.
Mentora de desenvolvimento infantil, atendimentos
online e presencial.
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