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O papel dos cuidadores na terapia fonoaudiológica de gagueira infantil

Tempo de Leitura: 4 minutos
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A gagueira é um transtorno da fluência do neurodesenvolvimento com início na infância. Surge em média aos 33 meses no qual as redes neurais que sustentam o processo da fala fluente produzem sinais de controle instáveis, apresentando disfluências atípicas que podem estar suscetíveis às influências genética, epigenética e ambiental, configurando-se com etiologia multifatorial e complexa. Cita-se que a incidência da gagueira varia no intervalo entre 3% a 17% na primeira infância, alertando para o período de desenvolvimento do transtorno em crianças pré-escolares. A manifestação primária na fala consiste na frequência inesperada de disfluências típicas da gagueira, principalmente bloqueios, prolongamentos, e repetições, que permite o diagnóstico diferencial com outros transtornos da linguagem.

   No entanto, há também características não tão visíveis com impacto psicossocial que podem interferir na qualidade de vida a longo prazo. A criança que gagueja desde muito cedo pode desenvolver dificuldades sociais, emocionais e comportamentais, como possuir sentimentos negativos em relação à sua fala e redução da participação social comunicativa. A detecção e os cuidados precoces podem minimizar o prejuízo na fala e prevenir o surgimento de outras complicações.

  Além disso, é possível evitar a instalação persistente da gagueira, caso seja identificada logo nos períodos iniciais da manifestação. As consequências da gagueira ficam mais agravadas à medida que a idade da criança avança. Na fase inicial do surgimento, por volta dos 2,5 anos, é possível potencializar a recuperação da fluência da fala em 80%, ao passo que aos 7 anos de idade a gagueira já tende a se cronificar. A linguagem e seus aspectos são fatores heterogêneos quando se trata de sua relação com a gagueira. Enquanto uma criança com gagueira pode apresentar linguagem com desenvolvimento adequado e um sistema motor da fala menos desenvolvido, outra pode demonstrar inabilidades linguísticas e articulatórias que irão interagir com um sistema motor imaturo para a fala, e ambas apresentarão alterações de fluência da fala que podem ou não ser diferentes em suas características e frequência.

  Para além das disfluências, é fundamental reconhecer que a gagueira também é frequentemente acompanhada por manifestações que não dizem respeito somente à fala do sujeito. Ou seja, outros aspectos podem estar envolvidos, como por exemplo, a antecipação da gagueira, a fuga (ou tentativa) de determinadas situações de fala, assim como a construção de uma autoimagem negativa pelo sujeito falante, além de outras manifestações corporais.

  Por vezes os cuidadores desconhecem ou apresentam conhecimentos vagos a respeito dos aspectos relacionados ao desenvolvimento de seus filhos. Ao mesmo tempo, é de extrema importância que os pais conheçam sobre o desenvolvimento normal da linguagem e audição para que, ao perceberem o menor sinal de alteração no comportamento de seu filho quanto a essas habilidades, possam procurar auxílio profissional imediato, de forma a diminuir a possibilidade de um diagnóstico tardio e suas consequências.

  Os cuidadores têm um papel fundamental no desenvolvimento da linguagem: o de atribuir significado e intenção à comunicação da criança e, principalmente, assumir a posição de representante da língua. Quando ocorrem alterações ou dificuldades na linguagem, o papel dos pais passa a ser fundamental, pois eles podem ser apontados como um indicador do desenvolvimento comunicativo de seus filhos, podendo perceber a presença de atrasos na aquisição. Desta forma, é essencial que os pais entendam sobre os distúrbios da fala e se instrumentalizem no que se refere às atividades que possam ser desenvolvidas no espaço doméstico, tornando-se aliados do processo terapêutico.   Compreender o contexto familiar, seus hábitos e costumes é de fundamental importância, considerando-se que esses fatores determinam os padrões da família e o desenvolvimento dos seus membros. O conhecimento ajuda a compreender os mecanismos existentes no grupo familiar e possibilita o esclarecimento do profissional quanto à melhor forma de atuar junto às famílias.

Dra. Laura Faustino Gonçalves
Doutoranda em Ciências da Reabilitação (USP). Fonoaudióloga e Mestre em Fonoaudiologia pela UFSC. Aprimoramento em Andamento em Fonoaudiologia aplicado ao Transtorno do Espectro Autista. Experiência em Motricidade Orofacial, Fala, Dificuldades Alimentares, Comunicação Alternativa e Linguagem. Cursos com ênfase em Transtorno Motor de Fala, Seletividade Alimentar e Comunicação Alternativa.
 
laurafaustinog@outlook.com
@lauragoncalves.fono
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