O parto na rede pública, e privada com e sem plano de saúde
Os procedimentos, condutas hospitalares e direitos da mulher em relação ao parto não se diferem nos hospitais públicos, privados ou com plano de saúde. A diferença está no poder aquisitivo e nos tipos de parto realizados.
As maternidades privadas estão ficando cada vez mais parecidas com hotéis de luxo. Enquanto isso, é cada vez mais comum verificar na rede pública desde a falta de leitos, mulheres em peregrinação por vários hospitais para encontrar uma vaga, falta de recursos humanos, tratamentos absolutamente desumanos e sem qualquer estrutura para atender uma parturiente até maternidades modelo com programas premiados de humanização do parto.
Esse é apenas um dos reflexos da desigualdade social que impera no país, fazendo do Brasil o segundo país do mundo com maior diferença de renda.
Cesariana em alta nas privadas – Mas é no tipo de parto realizado por essas maternidades que está a grande diferença. Na rede privada, a taxa de parto cesárea chega a quase 80%. Os índices mais altos estão na rede privada com plano de saúde.
Já nos hospitais e maternidades da rede pública, as taxas de cesariana caem para 27.5%. Esses dados são apontados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão governamental que regula a ação das operadoras de planos no País.
Pela Organização Mundial da Saúde, a recomendação é de que as cesarianas representem 15% dos partos. Mesmo nos hospitais públicos, o Brasil tem um índice muito alto de partos cesáreas. Isso mostra o quanto o país ainda está distante de oferecer uma assistência de qualidade à mulher.
Se o cálculo da idade gestacional do bebê for malfeito, o parto cesárea será feito antes da hora e o bebê nascerá prematuro, podendo trazer complicações no pós-parto como distúrbios respiratórios. Bebês de 37 a 38 semanas têm 120 vezes mais chances de apresentar a síndrome da angústia respiratória do que aqueles de 39 semanas. No parto normal, você tem certeza que ele está nascendo na época adequada.
O risco de morte materna em partos cesárea aumenta em 2,8 vezes em relação ao parto normal. A mãe também pode sofrer hemorragia e infecção puerperal. Sua recuperação é mais demorada do que no parto normal e sua estadia no hospital é maior.
O parto cesárea só deve ser realizado em situação de risco para a mãe ou para o feto ou se o trabalho de parto se estender excessivamente.
Opção pela cesariana – Os motivos para o elevado índice do parto cesárea são por comodidade da mãe e do médico que controlam a situação do parto, marcando dia e horário para o nascimento, diferentemente do parto normal, em que a natureza determina o dia e horário.
Outro motivo é o financeiro. Muitas instituições privadas têm como objetivo o lucro em detrimento de assistência e, portanto, o parto cesárea é mais lucrativo.
Já os médicos no Brasil geralmente são mal-remunerados, principalmente os que são conveniados com os planos de saúde, e por isso precisam trabalha em mais de um lugar. Por prestarem serviços em vários lugares, não têm tempo de ficar monitorando as parturientes nas seis ou mais horas de trabalho de parto de um parto normal.
O pagamento pelos convênios ou mesmo pelos pacientes particulares é maior com o parto cesárea e além de tudo é mais rápido. Assim o médico faz mais partos com maior lucratividade. Isso já não acontece na rede pública, onde o valor do pagamento pelos partos é o mesmo para normal e para a cesariana.
Além da comodidade, as mulheres preferem o parto cesárea por medo da dor do parto e os médicos cedem a pressão. Um bom pré-natal esclarecendo todas as dúvidas e mitos, inseguranças e medo da hora do parto com um obstetra que apóie o parto normal dará tranqüilidade e segurança para a mulher na hora de dar à luz e isto por si só já ameniza a dor.
Mas se a dor do parto normal for insuportável, a parturiente pode pedir a anestesia peridural onde as contrações continuarão, mas a dor não será mais sentida.
Como a necessidade de economia na rede pública é grande, a tendência é não abusar da tecnologia. Essa economia traz vantagens para a mãe e o bebê onde é a natureza que tem o controle do parto e o médico está presente para acompanhamento e intervenção só se for preciso. Mas a principal razão da queda no número de cesáreas foi as medidas tomadas pelo Ministério da Saúde para incentivar a realização de partos normais.
Os planos de saúde poderiam ajudar a reverter os altos índices de cesarianas oferecendo mais estímulo ao médico tanto do ponto de vista financeiro, pagando melhor o parto normal, como no aspecto de humanização do parto.
Cabe ao médico indicar o tipo de parto mais adequado para cada mulher e a gestante deve aceitar ou de questionar a escolha. Mas se a gestante pode ter o seu filho de parto normal e o médico indica a cesárea, há um desrespeito ao direito da mulher.